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Afinal, ainda há utilidade para os orelhões?

Quando Elvira Nichterwitz chegou a Linha Santa Cruz, então interior de Santa Cruz do Sul, para dar início ao seu empreendimento comercial, em 1989, o telefone ainda era artigo de luxo na localidade. Por isso, o orelhão se tornou uma atração à parte na frente do armazém. E o estabelecimento se transformou em ponto de ligação dos moradores com a zona urbana, onde os telefones eram mais comuns. 

Naquele tempo, o serviço era tão importante que dona Elvira pediu até para aumentar o volume da campainha do telefone público. “Ele tocava e a gente não ouvia direito. Depois, eles colocaram uma campainha bem mais forte, ficou fácil”, recorda. A partir da melhoria, foi instituído um novo serviço no armazém: a anotação de recados. “As pessoas ficavam esperando, mas às vezes tinham que ir embora. Eu anotava os recados e repassava.” 

O tempo foi passando e os telefones, se multiplicando. Vieram também os celulares e o que só estava disponível no poste passou a caber no bolso. Os orelhões se tornaram menos importantes e o aparelho de Linha Santa Cruz emudeceu. “Primeiro ele parou de funcionar, depois pararam até de trazer os cartões de recarga para vender”, diz a comerciante. 

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Embora mudo, o aparelho na frente do armazém de Elvira Nichterwitz ainda está lá e faz parte da planta de telefones públicos de Santa Cruz do Sul. São 463 aparelhos instalados no município. Segundo a própria Oi, empresa que administra o serviço desde 2008, estima-se que menos de 10% realmente funcionem.


Para Mitiele Majewski Corrêa, usar o telefone público é um meio de colaborar com o ambiente.
Foto: Lula Helfer.

Uso sustentável

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Para a estudante Mitiele Majewski Corrêa, 27 anos, usar o telefone público é um meio de colaborar com o ambiente, reduzindo o consumo e vivendo menos conectado à tecnologia. “É uma opção de vida mais sustentável. Deveriam existir mais aparelhos funcionando, e o uso deles deveria ser incentivado”, defende.
Quando está próxima de um telefone público, e se precisa falar com alguém, Mitiele liga a cobrar. Utiliza os aparelhos para ligar para números de discagem grátis, como os “0800”, e define o uso: “é uma forma colaborativa de utilizar a comunicação.”

Saiba mais

  • O formato da cabine que abriga o telefone público foi desenvolvido na década de 1970 e, por conta do desenho e do conforto acústico que propicia ao usuário, popularmente passou a se chamar de orelhão. Até então, o terminal era conhecido como Telefone de Uso Público (TUP).
  • “Caiu a ficha”: a expressão surgiu com o uso dos telefones públicos. Antes dos cartões,  para realizar uma ligação era necessário inserir créditos no aparelho. Nesta hora entravam em ação as fichas, feitas de latão. Quando o valor da ficha se esgotava, era necessário inserir outra para não cortar a ligação.
  • No Brasil, os cartões telefônicos surgiram em 1992, por ocasião da conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o clima, a Eco 92. No entanto, eles só se tornaram populares em 1997, quando houve também a privatização dos serviços de telefonia.

Vandalismo também atrapalha manutenção

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Se no passado os telefones públicos eram o meio mais rápido de se comunicar, atualmente nem para peça de museu eles servem. Conforme a Oi, os equipamentos sofrem diariamente danos por  conta do vandalismo. São defeitos na leitora de cartões, monofones e teclados quebrados, pichações e colagem indevida de propagandas nas coberturas sobre os aparelhos. 

Além da falta de carinho com os telefones, a modernidade é cruel com o aparelho analógico. A migração para o serviço de voz e dados móveis tirou toda a importância do orelhão. 

Atualmente, 0,04% dos telefones públicos da Oi no Brasil geram recursos para pagar o funcionamento e a manutenção. Mais de 68% dos aparelhos instalados não originam nenhuma chamada tarifada para a companhia e 29,9% nunca são usados. 

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Em nota, a Oi informou também que “a empresa investe constantemente em estudos de sua planta telefônica e, se for verificada ociosidade de alguns telefones públicos, eles podem ser transferidos para áreas de maior demanda – sempre respeitando a regulamentação da Agência Nacional de Telecomunicações”.

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