“Envelhecer é uma arte.” Ouvi tantas vezes isso que até duvidava, mas a cada dia confirmo a veracidade de tal afirmação. Nascido em 1960, posso garantir aos prezados leitores que envelhecer em plena revolução tecnológica é ainda mais complicado, doloroso e desafiador.
Os avanços acontecem numa velocidade impossível de acompanhar. Durmo feliz ao aprender a postar uma foto, depois de muitas horas de impaciência dos meus filhos, adultos jovens. Mas ao acordar no dia seguinte, descubro que isto é coisa do passado, ofuscado por novidades ainda mais avançadas.
Sou da velha guarda, daqueles que adoram ler jornais e publicações em geral no papel. Confesso a dificuldade em prestar atenção na tela do computador e muito mais na telinha do smartphone. Talvez seja consequência do vício de rabiscar as notícias, destacar os pontos principais do texto. Meu sogro, seu Pedro Pereira Nunes, de 88 anos e que mora comigo, acorda tarde e tem a tarefa facilitada ao pegar três jornais diários que assino e recebo na porta de casa. “As partes principais tu sublinha”, repete feliz.
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Outro vício é a coleção diária de bilhetinhos que inundam meus bolsos, mochila, mesa de leitura dos jornais. As anotações são onipresentes. O motivo é simples: há muito tempo deixei de confiar na memória.
Não consigo me habituar ao uso do bloco de anotações existente no celular. Trata-se de um avanço que chegou ao auge, na minha opinião, com o advento da Carteira Nacional de Habilitação virtual que meu filho de 22 anos possui. Show de bola! Um documento a menos na carteira.
E a vida segue seu rumo, com desafios diários à compreensão de que a tecnologia, logo mais adiante, comandará toda a nossa vida. Tenho um amigo que vai instalar equipamentos que, ao chegar em casa, deixarão o ar-condicionado ligado na temperatura programada, a televisão sintonizada no canal preferido e as luzes da sala acesas.
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Dia destes assisti à reportagem dos carros autônomos que andam sozinhos e fazem de nós simples passageiros para admirar a paisagem. Tenho a convicção de que, em algum momento, alguns comportamentos voltarão à simplicidade. Haverá saturação diante do excesso de automatismo que vai gerar uma legião de saudosistas – entre os quais me incluo, é claro! – que adotará posturas mais simples. E baratas.
Resta o consolo de saber que os amigos e afetos só têm valor mediante contatos pessoais, beijos na face, apertos e mão e abraços calorosos. Afeto ao vivo e a cores!
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