O canto e a música, por si só, já nos propiciam uma elevação espiritual, uma sensação especial e ressoam nos mais recônditos e íntimos cantos do nosso ser, afagando a alma. Quando se associam a gestos afáveis, a sorrisos e abraços sinceros, a demonstrações vivas de carinho, esse afago é ainda mais forte e brinca-se com as raias do bem-estar e da felicidade.
Esses sentimentos vieram à tona no ensaio semanal do grupo de canto que integro (Coral da Afubra), sempre encerrado com (adivinha) um canto, porém associado ao gesto de mãos dadas em círculo, onde convergem a mensagem da canção e as boas energias da comunhão que se estabelece. Não faltam o acréscimo eventual de oração (aliás feita no início de cada apresentação) e a lembrança de pessoas que precisam da atenção em momentos de fragilidade, como doenças, assim como o abraço ao aniversariante da semana ou o simples cumprimento afetuoso a quem se devota amizade (jamais visto como assédio…).
O canto desse momento, intitulado “Com amor cantarás”, diz: “Abre os braços como se abre a flor, canta uma canção de vida, ergue os olhos para frente, só assim esquecerás a dor, com amor cantarás a canção que não se acabará”. Nosso regente, Gustavo Sehnem, não cansa de lembrar a real e boa sensação deste instante, que é um privilégio de quem dele pode participar, após um exaustivo e exigente ensaio, que, por isso mesmo, se torna leve e reconfortante, pela magia e aura especiais que evoca, assim como o entoar das canções quando estão prontas para serem levadas ao público e se pode então passar a mesma emoção aos que abrem seus corações para assisti-las e absorvê-las.
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Esta oportunidade vem sendo propiciada novamente após o retorno das apresentações públicas, como aconteceu, por exemplo, com o Coro Masculino no último sábado, na celebração ao anoitecer na Comunidade Santo Inácio, no bairro do mesmo nome, e deve ocorrer no encerramento da assembleia anual da Afubra, por meio dos dois corais da entidade, em atos na Catedral e no pavilhão da Comunidade, ao final do dia 30 deste mês.
Mês que lembra os nossos colonizadores alemães, que aqui chegaram há 173 anos e têm no canto coral uma das mais preciosas tradições culturais. E está previsto no tradicional encontro de corais da instituição, que deve retornar ao Teatro do Mauá em 24 de setembro, já nas vésperas do aniversário de 144 anos do município.
Reativar essas conexões culturais e espirituais parece assumir um sentido ainda mais vigoroso após o período pandêmico de isolamento e paralisação dessas atividades, assim como ganham força iniciativas na mesma direção, tal qual a de um colégio marista em Porto Alegre, na última semana, que incentivou publicamente o abraço às pessoas, como “incentivo a gestos afáveis que tanta falta fazem”. Um dos abraçados lembrou bem que “a sociedade está com carência desse tipo de atitude”, que de fato precisa ser mais estimulada e praticada, para que nossas relações, não poucas vezes tendentes ao conflito e ao distanciamento, possam melhorar.
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Para reforçar como tudo isso importa, e muito, lembro do que me aconteceu há pouco tempo. Uma pessoa, com quem cruzo seguidamente no caminhar diário pelas ruas da cidade, me parou um dia pela manhã para agradecer porque sempre lhe dirigia um cumprimento e um sorriso, o que para ela, como destacou, fazia uma diferença e um bem muito grandes no dia que iniciava.
Pois, vejam bem: como uma atitude simples como essa, tomada com muita naturalidade e sem esforço (não só na época da política…), tem um poder tão grande no coração das pessoas. Apenas, e mais uma vez, comprova que não precisamos de muito para tornar a vida das pessoas melhor e podemos começar com mais gentileza, simpatia e amor, expressos das mais diversas formas, inclusive pelo belo canto.
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