Talvez o maior problema médico de todos os tempos seja algo tão elementar que poucas pessoas se dão conta dele. Apesar de todos os avanços, infelizmente a adesão aos tratamentos em geral continua muito baixa, aproximadamente 10%. Ou seja, a cada 10 pacientes que buscam qualquer tratamento, somente um irá fazer esse tratamento de forma correta e continuada.
Em algumas especialidades, principalmente da área de clínica médica, dentre as quais a psiquiatria, que tratam pacientes crônicos que muitas vezes exigem tratamento para toda a vida, as estatísticas são muito piores.
Infelizmente a maioria dos pacientes “fingem” que se tratam e a maioria dos médicos “acreditam” que os pacientes seguem as orientações e fazem uso adequado da medicação. Resistir ao tratamento é algo humano. Vamos combinar que usar medicação e lidar com restrições não são as melhores coisas do mundo. É um saco. Mas muitas vezes a diferença entre estar saudável e doente, quiçá entre a vida e a morte, pode estar nesse gigantesco detalhe.
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Na psiquiatria, costumamos brincar que a maior falha dos medicamentos é que ainda precisam ser administrados para fazerem efeito. Eles (ainda) não fazem efeito estando dentro da caixa ou na gaveta. Seria ótimo se os medicamentos funcionassem de forma wi-fi. Nesse sentido, há sim novas tecnologias que facilitam muito a manutenção do tratamento, como o desenvolvimento de medicamentos com melhor tolerabilidade, remédios de longa ação e até mesmo medicamentos injetáveis que duram 1, 3 ou 6 meses.
Quando lidamos com uso continuado de psicofármacos, há fatores que sempre vão reduzir a chance do paciente manter a adesão ao tratamento. Quanto mais grave a doença e menos crítica a pessoa tiver sobre ela, menos irá seguir as orientações. Usuários de drogas, pacientes com história de abandono prévio ou crenças muito negativas acerca do medicamento também.
Como médicos, devemos sempre evitar medicamentos que possuem efeitos colaterais incompatíveis com um uso continuado ou sempre lidar de forma a evitar tais efeitos negativos. Devemos sempre propor um esquema com o menor de remédios e de tomadas possíveis, pois quanto mais medicações e mais tomadas, menor a aderência. Infelizmente nem sempre isso é possível. Daí a importância de uma forte aliança terapêutica entre o médico e o paciente, para minimizar os estigmas e medos dos mesmos acerca da medicação, bem como favorecer um bom suporte familiar.
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Não devemos e nem podemos “brigar” com o paciente que desiste do tratamento. Nós médicos, como pacientes, também abandonamos nossos tratamentos o tempo todo. Nossa árdua e fundamental tarefa é motivar os pacientes a se manterem engajados com o tratamento, escolhendo os melhores (e mais tolerados) disponíveis, propondo posologias confortáveis e deixando sempre a porta aberta para as queixas e negativas que virão.
Honestidade e acolhimento é quase tudo numa relação médico-paciente satisfatória. Seja honesto com seu médico (e com você). Pois o médico trabalha com informação. E se ela não for precisa, isso afeta o resultado. E sem resultado, não há aderência.
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