“Não existe vitória quando se perde uma mãe, mas hoje a justiça foi feita.” Com lágrimas nos olhos, Franklin Elimar Fetzer estava aliviado. Às 19h40 desta quinta-feira, a juíza Márcia Inês Doebber Wrasse proferiu a sentença com pena de 33 anos, um mês e 20 dias de prisão para o pedreiro Servo Tomé da Rosa, de 70 anos, autor do feminicídio de Heide Juçara Priebe em 8 de julho do ano passado. Na data, o réu matou a tiros a ex-companheira, e mãe de Franklin, na Travessa Tenente Barbosa, no centro de Santa Cruz do Sul.
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Os sete jurados – quatro homens e três mulheres – que formaram o conselho de sentença condenaram o réu com o máximo rigor, reconhecendo todos os crimes imputados a ele e suas qualificadoras. A pena final de Servo foi dividida em 32 anos e dois meses de reclusão; 11 meses e 20 dias de detenção; e 30 dias-multa, pelos crimes de perseguição, violação de domicílio e homicídio triplamente qualificado.
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As qualificadoras – que ampliam a pena – foram elencadas por feminicídio (fato de a vítima ser mulher), motivo torpe (término do relacionamento) e recurso que dificultou a defesa da vítima (o fato de Heide ser pega de surpresa com a ação do homem). No dia do crime, por volta de 17 horas, com um revólver calibre 22, Servo atirou à queima-roupa contra ela, com quem havia tido um relacionamento amoroso.
Um disparo acertou a cabeça e outro o braço da vítima. Depois, o assassino atirou em si mesmo, na altura do peito, com a mesma arma. Os dois foram conduzidos ao Hospital Santa Cruz (HSC), mas Heide não resistiu aos ferimentos e morreu cerca de cinco horas depois do ataque, devido ao tiro no braço, que entrou na lateral do corpo e atingiu o pulmão.
Ela foi sepultada em Candelária, sua cidade natal. A Brigada Militar apreendeu a arma. A investigação ficou a cargo da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), sob o comando da delegada Raquel Schneider. O assassino foi conduzido algemado ao presídio no dia 11 de julho de 2022, quando teve alta do hospital. Ainda no HSC, Servo confessou ter matado a ex-companheira, durante interrogatório conduzido por Raquel.
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A investigação apurou ainda que o criminoso não tem porte de arma e usou uma peça antiga, herdada do pai, para balear a vítima. No inquérito, também foi juntado como prova um caderno no qual ele detalhou o planejamento da morte da ex. O crime foi caracterizado como passional, já que o autor não aceitava o fim do relacionamento com Heide.
Os apelos do defensor público não foram considerados, e os jurados condenaram Servo Tomé da Rosa com o máximo rigor na votação dos quesitos. O réu permaneceu de cabeça baixa durante as seis horas do júri. Após a sessão, ele foi levado ao Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, onde irá cumprir a pena. A divulgação pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse dos pouco mais de 33 anos de condenação provocou gritos de alegria e abraços de familiares e amigos da vítima, no plenário.
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Muito emocionado, Franklin Elimar Fetzer falou com a Gazeta do Sul após o resultado. “Acredito que a minha mãe agora vai descansar em paz e nós também, para seguirmos nossa vida mais leve. Nós não vamos esquecer, mas precisamos continuar a vida. Estivemos aqui por ela hoje, fizemos justiça por ela”, desabafou o filho.
Na mesma linha, a irmã dele, Aline Fetzer, comentou o desfecho do caso. “Dá um alívio imediato ver que ele foi condenado. Ele merecia, foi um crime bárbaro e a gente esperava a condenação. É uma etapa que aguardávamos e que precisava ser concluída para mostrar para a sociedade e a família”, disse a filha de Heide Juçara Priebe.
Primeiro a falar no debate, o promotor Flávio Eduardo de Lima Passos estava visivelmente emocionado. Iniciou afirmando que pesquisou pelo nome da vítima e encontrou o significado de “nobre”, em alemão. “É algo que a mãe de vocês foi. Neste sábado, irá se completar um ano da morte. Eu peço que vocês levem as rosas preferidas dela no túmulo e agradeçam à sociedade de Santa Cruz do Sul, porque eu confio que neste júri se fará justiça”, disse ele aos filhos de Heide.
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Em um longo relato relembrando as provas do processo, o promotor falou sobre os desdobramentos das ações de Servo, que culminaram com o feminicídio. Desde ocorrência registrada e mensagens no Messenger do Facebook até chegar ao doloroso vídeo, que circulou por toda a cidade e foi divulgado nos veículos de comunicação, mostrando a execução dos disparos contra a mulher de 63 anos. Em um monitor, os jurados e o público puderam acompanhar, por algumas vezes, o vídeo e os tiros efetuados por Servo contra a vítima.
Nesse momento, em prantos, o filho Franklin não aguentou olhar as imagens e saiu do plenário, indo para onde estavam seus irmãos: Aline Juçara, de 44 anos, e Jean Carlos, de 33. Antecipando-se à possível tese da defesa, de afastar a qualificadora de motivo torpe (que, segundo alguns juristas, entra em conflito de compatibilidade com a de feminicídio), Flávio afirmou que os jurados são soberanos na decisão e há muitos enquadramentos onde ambas são aceitas. “Rogo a vocês, deem o conforto da Justiça para essa família, e que Deus os abençoe”, finalizou o promotor criminal.
No complemento à fala de Flávio, Nicole e Franciele relembraram a dor da família, ao passar pelos momentos de terror vividos no último ano. “Esta é a possibilidade de mostrar para a sociedade de Santa Cruz e do Rio Grande do Sul que não é permitido uma mãe, uma mulher, ter a vida ceifada desse jeito. Isso é um ato animalesco. Foi um crime bárbaro, chocante, que assolou a comunidade de Santa Cruz”, disse Nicole Weber.
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Em sua fala, o defensor público Arnaldo França Quaresma Júnior disse que não admitia tal delito. “O senhor errou, cometeu um crime grave”, afirmou olhando para o réu, que mantinha a cabeça baixa. No entanto, Quaresma salientou a importância da defesa e a necessidade de analisar circunstâncias que poderiam gerar uma pena menor, como o conflito de compatibilidade entre as qualificadoras de feminicídio e motivo torpe e atenuantes de confissão e idade, pois o réu tem 70 anos.
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