O Bali Hai é um restaurante tudo de bom, praticamente dentro do mar, na praia de Atlântida, município de Xangri-lá. Charmoso e poético. Um cardápio de primeiro mundo. Além do que uma decoração de muito bom gosto, exótica, frequentadores muito animados e, super claro, nada de TV transmitindo novela ou jogo. Coisa lógica que restaurante classudo não tem disso. E o que me chamava a atenção é que os clientes vinham bem vestidos e as mulheres caprichavam mesmo. O bom gosto no vestir ajuda decisivamente para um jantar.
Pois Maristela e eu recebemos a visita de uma amiga que, recém separada, vinha buscar um colinho. Caiu a noite e Shanielly cismou de nos convidar para jantar um linguado com alcaparras lá no tal do Bali. Chegamos, e – hosanna nas alturas! – havia um conjunto que tocava suavemente música romântica. Quase não pude crer: um conjunto tocando sem estridência e mais, casais ainda jovens, dançando juntinhos.
Shanielly ficou azarando um cara que estava com um amigo na mesa ao lado. Ela afogueada com seus 35 anos e hormônios em plena ebulição. Nessa hora me lembrei do concerto para violino e orquestra de Max Bruch, primeiro movimento, aquele pulsar febril da paixão, do amor, da necessidade, o dito estuar da libido.
O que ela achara interessante era um gordinho.
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– Vou tirar o cara para dançar, gemeu Shanielly (como Queen Latifah quando canta Simply Beautiful).
Mas o rapaz nem as horas para nossa sequiosa amiga.
E ela arrastando aquele ar de mormaço. Parecia aquelas leoas, prontinha para o acasalamento. Pensou em mandar um bilhetinho pelo garçom pedindo que lhe ligasse. Mas optou por esperar mais um pouco, enquanto fuzilava olhares para o seu tórrido e futuro romance.
Terminamos a janta, a guria quis dançar só uma comigo, respondi-lhe que corria o risco de alguém tirar Maristela e declinei. Pagamos e fomos saindo por aquela passarela de madeira. Perto do estacionamento deu um treco na Shanielly, que jogou fora as duas sandálias de saltinho e voltou correndo em direção ao restaurante, tal qual uma novilha zebua.
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– Vou dançar com o gordinho, gritou num espasmo.
Eu abria o carro, pensando em qual motel eles iriam depois, quando ela voltou cabisbaixa: – Brincadeira! O gordinho estava dançando com o amigo dele e o pior, sniff, de rosto colado.
– São os novos tempos, Shan, fairplay please, lhe sussurrei.
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Ela voltou correndo para dentro.
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