Já dei pequenas batidas com meu automóvel por pura distração. Principalmente aquelas raspadinhas no pilar ou mesmo no portão. Meus amigos brincam comigo: dizem que já poderia comprar um carro novo pelo que já gastei em consertos. O meu atual carro não tem nem 10 mil quilômetros e já visitei a oficina para pequenos reparos.
Tenho uma ampla área anexa à casa com garagem para dois carros e uma escada de dois degraus que separa o salão de festas e o espaço que uso para assistir a meus programas de televisão, principalmente noticiários, séries e jogos de futebol.
Outro dia aconteceu-me algo inusitado. Apressado, meu chinelo de couro resvalou do pé, tropecei no primeiro degrau e caí feito um saco de batatas na parte mais baixa. A sorte é que consegui escorar meu corpo com o braço esquerdo, evitando que batesse com a cara nas lajotas.
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A esposa escutou o baque, mas pensou que fosse outra coisa. Anunciei o desastre aos berros. Queria levantar-me, mas não conseguia. Os joelhos sangravam e o braço que usei para amenizar o impacto, não tinha força. A Lizete fez uma tentativa de me erguer. Magrinha, na primeira, não conseguiu, apesar de adorar academia, pilates e dança na Aliança. Continuei deitado, sentindo dores atrozes. A socorrista pediu que me sentasse no primeiro degrau. Arrastei-me e consegui colocar ali o meu traseiro. Na segunda tentativa de levantar-me com a ajuda da esposa, fui até a metade da subida e despenquei mais uma vez, quase acontecendo uma tragédia maior, com os dois esparramados pelo chão. Depois de duas tentativas e uma desistência, consegui me erguer.
O meu calvário apenas iniciara. Após duas semanas, fui consultar com o médico, que fez testes e solicitou uma ressonância. No Radson, a jovem que me atendeu deu-me um saquinho de plástico para colocar todos os metais que estivesse usando. Se tivesse alguma prótese dentária, teria que deixá-la no armário. Ainda bem que não uso. Ficaria esquisito. Não estava gostando dessa prévia.
Finalmente, levaram-me para a sala. O aparelho parecia uma máquina do tempo. A enfermeira perguntou-me se sentia pânico em ambientes fechados. Diante da minha negativa, taparam meus ouvidos (já sou surdo; mais o tampão, duplicou a minha surdez), deram-me um alarme para acionar em caso de desespero e lá fui eu para o interior do tubo. Fiquei solitário na sala e as enfermeiras saíram de lá.
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Alguém me disse que ouviria uma música suave, porém nada escutei. As profissionais se comunicavam comigo, mas não entendia. Confesso que só ouvi uns sons estranhos: moto com a descarga aberta; caminhão subindo a Cava Funda em primeira. Horrível, apesar dos tampões nos ouvidos.
Resultado da ressonância: rompimento parcial de um tendão do ombro. Fisioterapia intensiva, só que as dores continuam.
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