Eram tantas cores e estilos que ficou difícil escolher o que mais combinava com a ocasião. Verdes, rosas, floridos ou listrados, os lenços dispostos ontem em cima de uma pequena mesa no Ambulatório do Centro de Oncologia Integrado do Hospital Ana Nery fizeram, literalmente, a cabeça da mulherada.
As pacientes, além de ganharem muitos dos lenços, receberam uma aula de como amarrá-los. Duas voltas, nó duplo, um lenço sobre o outro. Tudo foi possível, com a condição de que o resultado final impactasse diretamente na autoestima das mulheres diagnosticadas com câncer. Uma doença que assusta, abala. Mas que deve ser encarada de cabeça erguida.
Diante do espelho, a técnica de enfermagem Márcia Cristina Spindler, 45 anos, observava com atenção a voluntária Cíntia Luz ajustar o lenço em sua cabeça. Faz quatro meses que ela foi forçada a cortar as madeixas por causa da quimioterapia. Desde então, vê no lenço um acessório que ameniza a sensação de fragilidade. “No dia em que raspei a cabeça, saí correndo do salão. Não consegui me olhar no espelho. Chorei muito. É um processo difícil.”
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As lembranças, apesar de duras, deixam Márcia mais forte. E ontem, mesmo sem perceber, ela demonstrou a fortaleza que criou dentro de si. Ao lado da voluntária, escolheu dois lenços. O verde, cor da esperança, ficou por baixo. O colorido, para não perder a alegria, foi amarrado por cima. “Prefiro o lenço. Ele é mais prático. A peruca é um pouco desconfortável”, comentou.
Promovido para resgatar a autoestima das pacientes, o evento integrou atividades desenvolvidas em alusão ao Outubro Rosa. De acordo com a responsável pela Comunicação do hospital, Lilian da Fontoura Rodrigues, a ideia foi valorizar a imagem da mulher. “A intenção foi resgatar esses aspectos nas pacientes e nos familiares. São propostas para que elas possam se reinventar.”
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E olha que a voluntária Cíntia não economizou na ousadia e na criatividade. Para cada paciente, um novo estilo. Independente do tipo de amarração, o importante era a satisfação no final. “Tu queres aquele nó tradicional ou o mais diferente?”, perguntava para cada uma que se acomodava na cadeira. “O lenço tem o mesmo charme da maquiagem. Um complementa o outro. O legal é que são escolhidos conforme a personalidade de cada mulher”, explicou.
As pacientes também participaram de sessões de automaquiagem e protagonizaram a brincadeira chamada Nó Humano. De mãos dadas, após uma breve dança em grupo, elas receberam o desafio de desatar um embaraço formado pelos próprios corpos, sem se soltar. A intenção era provar que, juntas, podem mais. Sem muitas delongas, o desafio foi cumprido e as palmas reverberaram em homenagem a todas que enfrentam o câncer.
Essa força, muitas vezes, nem elas sabem de onde vêm. Ou melhor, sabem, sim. “Quando estou para baixo, meu filho de 5 anos diz: ‘Mãe, eu te amo mesmo carequinha, tá bom?!’”, revela Márcia. E isso explica tudo.
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