Uma novela que se arrasta há anos ganha contornos cada vez mais dramáticos em Candelária. Trata-se da VRS-858, rodovia que liga a RSC-287 à localidade de Linha do Rio, no interior do município. As queixas dos moradores e usuários já eram frequentes quanto às precárias condições de conservação e aumentaram muito depois das enchentes deste ano. Agora, a pista encontra-se destruída em vários pontos, não há sinalização e os buracos se tornaram armadilhas camufladas no que restou do asfalto.
Na tarde dessa segunda-feira, 11, a Gazeta do Sul percorreu mais de 12 quilômetros da 858 e pôde ver de perto todas as dificuldades enfrentadas diariamente por moradores, agricultores e demais motoristas que usam a estrada para se deslocar. Durante as enchentes, vários trechos ficaram submersos e a força da água acabou levando o asfalto ou mesmo a pista inteira. Quando as águas baixaram, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) realizou uma operação emergencial para restaurar as condições mínimas de trafegabilidade.
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As obras tornaram a rodovia um misto de asfalto esburacado e estrada de chão batido, que se alternam sem nenhum aviso prévio e muitas vezes com desníveis que podem provocar a perda do controle do veículo. Os buracos – que podem ser contados às centenas – variam em diâmetro e profundidade, mas estão presentes em praticamente toda a extensão. Alguns cresceram tanto com o passar do tempo e a falta de reparos que se tornaram valetas com largura suficiente para ir de um lado a outro do pavimento.
Além da completa ausência de sinalização vertical e horizontal, em alguns locais a pista cedeu e o trânsito ocorre em meia-pista. No ponto mais crítico, no quilômetro 8, o Rio Pardo engoliu todo o traçado original e obrigou o Daer a construir um desvio. A solução que deveria ser provisória já dura seis meses, e não há previsão de quando a normalidade será retomada.
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Durante a noite, a escuridão torna tudo ainda mais perigoso. Os condutores que não conhecem o trecho podem facilmente sofrer um acidente. Se isso acontecer, há um agravante: grande parte da VRS-858 não tem sinal de celular nem internet.
Produtora rural na localidade de Linha do Rio, Milena Ellwanger enfatiza que todos estão indignados com a falta de ação do Daer para restabelecer as condições de trafegabilidade e segurança da VRS-858. “Aqui há uma maioria de agricultores que precisam usar a rodovia para escoar a produção, além do pessoal que trabalha na cidade. Isso é um descaso com a comunidade.” Ela recorda que o governador Eduardo Leite esteve no local e prometeu verbas para a recuperação, mas até agora nada foi feito.
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Avaliador da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Abdioni Wolfenbüttel, de 26 anos, usa a rodovia todos os dias e classifica a situação como “caótica”. “Vou ter que refazer toda a suspensão do meu carro, dá dó ter que usar naquela estrada esburacada.”
Segundo ele, não há mais a quem recorrer frente à deterioração que não para de avançar. “Imagina as crianças que precisam transitar diariamente. Em alguns pontos só passa um carro por vez, é um perigo.” Revela ainda que foi enviado ao Daer um pedido por mais sinalização, mas foram informados de que a autarquia não possui os equipamentos necessários.
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Também morador da região e uma das vozes mais ativas na busca por melhorias, Renan de Moura chama a atenção para outro problema, nas imediações da Escola Estadual de Ensino Fundamental (Emef) São Paulo, no quilômetro 12. “O rio está rente à rodovia, já levou toda a vegetação que havia ali. É muito preocupante.”
Ele se mostra apreensivo ainda com o transporte coletivo, haja vista que são 12 horários por dia que levam estudantes e moradores das localidades de Costa do Rio e Quilombo. “A 858 já enfrentava problemas por falta de manutenção e a precariedade aumenta com o passar do tempo.”
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Nascida na localidade do Quilombo, a professora aposentada Rosane Beise, de 63 anos, atuou por 13 anos como docente e dez como diretora da Emef São Paulo. Segundo ela, os alunos vêm de 11 localidades daquela região e todos eles, além de professores, funcionários e comunidade, dependem da VRS-858 para os deslocamentos diários. “Já se passaram seis meses e nada foi feito. Se você não cuida, fura um pneu ou quebra o carro, principalmente à noite, visto que não existe sinalização. É muito perigoso.”
Já o prefeito de Candelária, Nestor Ellwanger, lembra que Eduardo Leite viu de perto a situação. Na semana passada, durante a cerimônia de assinatura do termo de início das obras de duplicação da RSC-287, em Santa Cruz do Sul, o prefeito cobrou novamente o governador. “É uma rodovia de extrema importância para o nosso município e, neste momento, está sem nenhuma condição de trafegabilidade. Continuaremos trabalhando para buscar a recuperação o mais rápido possível”, afirma.
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A Gazeta do Sul encaminhou ao Daer um pedido de informações sobre a VRS-858, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem. Em setembro deste ano, quando a última notícia sobre a precariedade da rodovia foi publicada, a autarquia havia informado que estava em elaboração um anteprojeto para contratação de uma nova empresa para a segunda fase da recuperação, que corresponde à manutenção em toda a extensão, incluindo a sinalização. Naquela ocasião, a previsão era de que as obras começassem ainda neste ano.
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