Mesmo aqueles com a visão mais aguçada não conseguem enxergar o que está abaixo da superfície. A parte visível do iceberg é quase insignificante perto da massa de gelo submersa.Se quisermos compreender o mundo, suas peculiaridades e problemas, é necessário escavar muito: as raízes estão sempre debaixo da terra. E, mesmo assim, nada garante que seremos bem-sucedidos em nossas tentativas.
Abaixo da superfície estão os movimentos sinuosos da política, com seus conchavos eventualmente suspeitos e rupturas inesperadas. Os discursos públicos, promessas e bravatas para consumo externo são o espetáculo que nos servem, sobretudo agora, em mais um ano de eleições. E, enquanto muitos perdem seu tempo e qualidade de vida brigando com amigos, familiares, conhecidos e desconhecidos por “ideias ideológicas” – as quais não passam de cortina de fumaça para dissipar questões muito mais relevantes –, os governantes do momento continuam recebendo seus altos salários e confortáveis benesses.
Abaixo da superfície estão nossas próprias motivações. Que pulsões e condicionamentos inconscientes estão na origem de nossos atos conscientes? Por que é tão difícil, às vezes, abandonarmos comportamentos que, racionalmente, sabemos que irão nos prejudicar? Somos racionais ou não? Se a mente humana fosse representada por uma casa com vários cômodos, como dizia o poeta Rainer Maria Rilke, provavelmente só conheceríamos de fato o canto de um quarto.
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No romance de ficção científica Solaris, do polonês Stanislaw Lem (transformado em filme por Andrei Tarkovsky), a equipe de uma estação espacial tenta se conectar com vida inteligente em um mundo estranho. Porém, o único “contato” que estabelecem é com seus próprios fantasmas do passado. Algo em Solaris, o planeta alienígena, desvenda a alma dos visitantes e materializa lembranças reprimidas – por exemplo, de pessoas que já morreram e “revivem” como aparições físicas diante dos cientistas. Traumas, situações que nunca foram resolvidas, vêm à tona para cada um.
Abaixo da superfície está o que desconhecemos. Inclusive sobre nós mesmos.
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