Se as catástrofes provocadas por mãos humanas espantam, o que dizer da destruição que emerge ao acaso? De um lado, a guerra infindável na Ucrânia, empreendimento racionalmente planejado e executado; de outro, o inesperado terremoto que devastou cidades na Turquia e na Síria. Uma semana depois, continuam as buscas por sobreviventes do desastre que matou mais de 40 mil pessoas.
Terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas e assemelhados assustam por seu caráter fortuito: podemos fazer estimativas e tomar precauções, mas nunca sabemos quando irão acontecer. E com que impacto. Somos confrontados com nossa vulnerabilidade essencial: tudo o que construímos no decorrer da vida pode se perder em minutos.
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Tentaremos de algum modo reduzir os riscos durante a viagem, que um dia vai acabar (como qualquer travessia). Na esperança de que termine em um porto seguro, sem naufrágios estúpidos e outros acidentes de percurso.
Haverá icebergs no caminho? Enquanto escrevo, Titanic é reexibido nos cinemas após 25 anos. Um dos filmes de maior bilheteria trata de uma das grandes tragédias da história: o naufrágio do transatlântico Titanic, em 1912, que causou a morte de 1.500 pessoas. O navio britânico fez sua primeira e última jornada.
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Com o Titanic, começaram a imergir as ilusões de progresso invencível e controle sobre a natureza comuns no início do século 20. O gigantesco navio era um marco tecnológico, o maior meio de transporte criado no mundo (e o mais luxuoso). Diziam que nem Deus poderia afundá-lo. Bastou um iceberg para deixá-lo no fundo do Oceano Atlântico.
Em 1998, quando o filme de James Cameron foi lançado, o economista francês Jacques Attali entendeu seu sucesso como um reflexo dos temores do público. “O Titanic somos nós, nossa sociedade triunfalista e autocongratulatória”, escreveu. “Todos imaginamos que existe um iceberg esperando por nós, oculto em algum lugar no futuro nebuloso, com o qual nos chocaremos para afundar ouvindo música.”
Apenas o medo, enfim, do acaso capaz de sabotar nossos mais elaborados projetos e rotinas, por mais sólidos que pareçam.
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