Entre troféus que certificam a qualidade dos serviços que presta como cabeleireira e outros que mostram a potência de sua voz, a vera-cruzense Josiane Bittencourt, 33 anos, prepara-se para, pela primeira vez, ser puxadora de samba em Santa Cruz do Sul. Representando a escola de samba Imperadores do Ritmo, ela entrará na avenida, ou melhor, na Marechal Floriano, no próximo sábado representando as mulheres em um papel que na maioria das vezes é ocupado por homens.
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Josiane é cantora desde criança e começou a trajetória na música dentro da igreja. Depois, quando já residia em Porto Alegre, teve algumas experiências como puxadora de samba na Unidos de Vila Isabel, de Viamão, e na União da Tinga, escola da capital gaúcha. O convite para cantar em Santa Cruz, na Imperadores, foi feito em outubro do ano passado pelo presidente da escola, Edinei Martins. “Fiquei bem feliz porque é raro ver mulheres atuando na parte da harmonia em si. Em Porto Alegre até se vê várias mulheres, tem um público feminino grande que está entrando para a harmonia e também bateria. Por isso, este ano, para nós, é um diferencial”, afirma.
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Para a cantora, é um presente participar do Carnaval como puxadora de samba perto de Vera Cruz, que é sua cidade natal e também onde mora atualmente. “Ver as mulheres tomando esse espaço da harmonia, do samba, é surreal. Todos os anos costumamos ver homens cantando e mulheres sendo passistas. Representar várias mulheres é bem importante. É uma chamada para que mais mulheres queiram ocupar esses espaços. Podemos ser o que quisermos, onde quisermos, e o Carnaval também é nosso lugar, na harmonia principalmente”, frisa.
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Mas quem vê Josiane falando assim, com tanta ênfase sobre empoderamento, não sabe que, para ela ser o que é hoje, também foi uma reconstrução de longo tempo. Mãe de Pedro Henrique, de 8 anos, e Sarah Vitória, de 2, Josiane se considera mãe solo. Depois de passar por relacionamentos difíceis e um bastante abusivo, a cabeleireira precisou se recompor e ir à luta sozinha, por ela e pelos filhos.
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“Tem muitas mulheres, chefes de família, que foram abandonadas, que sofreram vários tipos de violência psicológica, como eu nos meus dois relacionamentos. Precisei me reconstruir e aprender a viver comigo. É diária essa reconstrução. É se olhar no espelho e gostar do que se vê.”
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Graduada no curso de Secretariado Executivo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), hoje Josiane é cabeleireira e atua como vigilante em uma fumageira. A rotina é exaustiva, mas ela tem um objetivo: terminar a obra do salão de beleza junto à sua residência.
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Com foco no atendimento às mulheres com cabelo afro, Josiane acredita que muitas, ao conhecerem sua história, acabam se identificando. Conta que precisou exercitar a autoaceitação e isso a fez se tornar cabeleireira. “Ficava feliz com o meu cabelo só quando eu tomava banho, porque a água caía e ele ficava baixinho. Na infância, escutamos muito que nosso cabelo era ruim. Eu quis ser cabeleireira por conta disso. É uma realidade que eu quis trazer para Vera Cruz porque o nosso cabelo tem jeito, é lindo do jeito que for, alisado ou crespo. Muitas clientes chegam aqui depressivas. Dentro dessa realidade, eu creio que elas enxergam muito delas em mim.”
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