Em setembro do ano passado, o aumento de preços, principalmente nos supermercados, começou a ser percebido com mais clareza e reclamado pelos consumidores. Claro, ainda longe daqueles índices de 10% ao mês, nas décadas de 1970 a 1990; sem esquecer o inacreditável índice de 83%, registrado no mês de março de 1990.
A justificativa da inflação persistente e atual seria a maior demanda pontual, por causa dos auxílios emergenciais do governo federal, e a alta do dólar que encareceu produtos de alimentação. Entretanto, ocorreu uma alta de preços generalizada, o que os economistas chamam de índice de difusão, sendo que 7 em cada 10 itens aumentaram de preço.
Reconhecendo a existência da inflação, no último dia 16, o Banco Central aumentou, pela terceira vez seguida, desde janeiro deste ano, a taxa básica de juros – Selic – para 4,25%. É a arma que o Bacen tem para combater a alta dos preços. Afinal, em maio a inflação acelerou o passo, em 0,83%, acumulando 8,06% em 12 meses, de acordo com o IPCA que é o indicador oficial do governo, mas que não representa a inflação real, principalmente dos alimentos. É que o índice oficial é o balanço de uma cesta de mais de 400 itens, em que alguns aumentam de preço e outros abaixam.
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O fato é que o conjunto dos produtos da cesta básica do brasileiro vem sofrendo altas de preços, há alguns meses. O preço da carne, por exemplo, subiu 38% nos últimos 12 meses. Até os miúdos aumentaram de preço. A explicação desse aumento seria a demanda de alguns itens, usados em pratos típicos do inverno, como o mondongo, e, também, a busca de alternativas para substituir cortes mais tradicionais com preços mais “salgados”.
Essa inflação que todos estamos sentindo, em maior ou menor intensidade, dependendo da proporção do orçamento que cada um destina para comprar diferentes produtos, está sendo mais cruel com as famílias de menor poder aquisitivo. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), para as famílias com renda domiciliar inferior a R$ 1.650,50 a alta de preços, acumulada nos últimos doze meses, é de 8,91%; já para as famílias que recebem mais de R$ 16.509,55 é de 6,33%.
Além do custo da inflação, a pandemia do coronavírus impactou o mercado de trabalho, provocando um nível recorde de desigualdade entre os ganhos de ricos e pobres. Os dados integram a pesquisa “Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia”, divulgada no último dia 14, pelo centro de estudos FGV/Social. Pela primeira vez, em 10 anos, a renda média no Brasil cai abaixo de R$ 1 mil. O economista pesquisador da FGV Social, Marcelo Neri, ressalta que a melhora da situação depende do combate à pandemia. Nesse sentido, a vacina é fundamental para permitir a retomada de atividades econômicas e volta ao nível de normalidade.
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Isso tudo só aumenta o desafio para as pessoas e famílias que precisam rever seus gastos. Por vivermos no automático, simplesmente recebendo o salário ou a renda e pagando contas, esquecemos ou não nos preocupamos em rever nossas despesas. Não se trata só de pesquisar preços, anotar os valores gastos, mas de analisar como nos comportamos ao fazer as compras. É isso que pretende a educação financeira: ir além das finanças pessoais que se restringe a questões técnicas e começar a observar o comportamento.
Muitos especialistas recomendam aumentar ou diversificar as fontes de renda, desenvolvendo alguma atividade extra com o objetivo de aumentar os ganhos. É uma ideia que pode encontrar dificuldades para ser realizada, ainda mais em tempos de crise, como o atual, em que as oportunidades de trabalho são poucas. Mas, o que pode ser feito imediatamente para aumentar o poder de compra é seguir alguns passos simples, como:
1º) anotar os pequenos gastos diários: somados, podem representar um valor expressivo;
2º) cuidar com o desperdício de alimentos e energia elétrica: comprar acima do necessário, deixar luzes acesas, continuar com banhos demorados, etc, é jogar dinheiro fora;
3º) questionar a fidelidade a produtos e supermercados: pode estar custando mais caro;
4º) rever as despesas automáticas: assinaturas de TV e internet;
5º) descartar o uso do cartão de crédito, cheque especial ou empréstimos especiais para complementar a renda: carregam juros que diminuem a disponibilidade financeira.
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A maioria dos consumidores brasileiros – 88.4% – pretende comprar menos por impulso, pensando mais no que vai gastar. Aquela história de gastar por gastar parece que, pelo menos por enquanto, ficou no passado. Nesse contexto, Reinaldo Domingos, criador da DSOP Educação Financeira e pós-doctor em educação financeira, dá a seguinte orientação:
1º) realizar uma reunião familiar para levantar os desejos e objetivos individuais e coletivos:
– apurar o custo de cada um;
– em quanto tempo querem realizá-los;
– quanto podem guardar mensalmente para a finalidade;
– de onde vão buscar o dinheiro para realizar esses objetivos;
2º) efetuar um diagnóstico da situação financeira atual: apurar o custo total, identificando o valor gasto em cada item que, se for o caso, poderia ser substituído ou eliminado;
3º) ter e cumprir um orçamento, priorizando sonhos e propósitos;
4º) poupar: guardar recursos para a realização dos sonhos e propósitos;
5º) investir: deixar o dinheiro poupado em alguma aplicação financeira.
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