“Uma comunidade de trabalhadores, que lutam diariamente por sua dignidade e cidadania.” Essa é a descrição, na página 52, feita no livro Bairro Bom Jesus – Uma experiência de extensão universitária, editado em 2007 e organizado por Maira Meira Pinto. O trabalho de extensão da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) teve como objetivo auxiliar a mudar a imagem do bairro, muito estigmatizado na cidade.
Ainda em busca dessa desmitificação, o Bom Jesus resiste, com aproximadamente 7 mil habitantes. É um bairro considerado vulnerável, mas não deixa a desejar no quesito colaboração, solidariedade e trabalho duro. Continua convivendo com situações de violência e criminalidade, mas apresentou avanços positivos após ações integradas das forças de segurança. Além disso, melhorias seguem acontecendo devido aos projetos sociais que existem no bairro.
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Delimitações
“Inicia em um ponto localizado no eixo da Av. Gaspar Bartholomay, no limite leste da Faixa de Domínio da Rodovia BRS-471, seguindo pelo referido eixo, no sentido leste, até encontrar um ponto localizado no entroncamento desta com o eixo da Rua São José, seguindo por este eixo, no sentido sul, passando pelo ponto localizado no entroncamento desta com a Rua Dr. Cleóbis Dorneles da Fontoura, até encontrar um ponto localizado na divisa noroeste do Loteamento Ricardo Rusch, seguindo por esta divisa, no sentido sudoeste, até encontrar um ponto localizado na divisa norte do Loteamento Bela Vista, seguindo por esta divisa, no sentido sudoeste, até encontrar um ponto localizado na divisa sudoeste do referido Loteamento, de onde segue, no sentido noroeste, por uma linha reta e imaginária, até encontrar um ponto localizado no eixo da Rua Bruno Agnes, no local onde esta muda de direção, seguindo por este eixo, no sentido sudoeste por uma linha reta e imaginária, até encontrar o ponto localizado no entroncamento deste eixo imaginário com o eixo da Rua Adolfo Pritsch, seguindo por este eixo, no sentido sudeste, até encontrar um ponto localizado no entroncamento desta com o eixo de uma Rua Sem Denominação, que dá acesso da Rua Adolfo Pritsch para a Rodovia BRS-471, deste ponto segue, pelo eixo desta Rua Sem Denominação, no sentido sudoeste, até um ponto localizado no eixo da Rua Sem Denominação, no limite leste da Faixa de Domínio da Rodovia BRS-471, daí seguindo, no sentido norte, sempre acompanhando esta Faixa, até encontrar o ponto inicial.” – Trecho da lei ordinária 8.714, de 14/09/2021.
História ligada à instalação da Souza Cruz
Pela proximidade um do outro, as histórias dos bairros Bom Jesus e Senai se entrelaçam. Segundo pesquisa realizada em 2014 por José Augusto Borowsky, para a Gazeta do Sul, as antigas chácaras particulares e áreas verdes pertencentes ao poder público de Santa Cruz do Sul, a partir da rótula da antiga Souza Cruz e que seguem nas margens da Rua Gaspar Bartholomay até a várzea do Rio Pardinho, deram origem aos dois bairros, que já foram um só. A instalação da antiga Souza Cruz, em 1917, alavancou o crescimento da região, que passou a ser ocupada por trabalhadores temporários, os safreiros, que vinham do interior de Santa Cruz e de cidades vizinhas.
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Tal região era conhecida como Camboim – nome que se dá a uma árvore típica do Rio Grande do Sul e que ali crescia de forma abundante. Ainda de acordo com a pesquisa, a denominação antiga pode ser confirmada por documentos da Prefeitura e leis municipais. “Em documentos da década de 1940, a região é chamada de Camboim, Entrada Bom Jesus e Linha Bom Jesus. Bom Jesus lembrava o Passo do Bom Jesus, como era chamada a travessia do Rio Pardinho”, descreveu Borowsky. Em 1998, o Senai e o Bom Jesus foram desmembrados, sendo divididos pela Rua São José, e o antigo nome Camboim acabou em desuso.
Dedicação total à comunidade do Bom Jesus
Há 20 anos, Clairton Ferreira, de 53 anos, está à frente da Associação de Moradores do Bairro Bom Jesus. Conhecido por todos como Tim, ele mora há 47 anos no local. Ser um líder do bairro foi algo motivado pelo tempo em que ainda trabalhava em uma rede de supermercados. “Ajudei muita gente a conseguir emprego, aí veio o gosto de fazer as coisas pelas pessoas, comecei a me envolver com futebol também. Querer ajudar o próximo sempre me motivou muito.”
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Tim relata que o Bom Jesus já foi muito violento, o que mudou bastante, principalmente devido ao incentivo de projetos sociais. Ele também não deixa de observar a presença das principais entidades de Santa Cruz. “Um tempo atrás tinha muita violência, mas houve uma grande mudança com a parceria de pessoas e projetos. Podemos andar aqui tranquilos, as pessoas podem visitar. Queremos poder trazer cada vez mais projetos para cá.”
O líder comunitário destaca iniciativas de doação de alimentos, de inserção no esporte e também ingresso de jovens no mercado de trabalho. “Temos a doação de comida todos os dias porque, com a questão da Covid, muitas pessoas ficaram desempregadas. Tem também a parte social de esporte, temos o campo em que, toda quarta, o pessoal do Galo treina aqui. Agora também está saindo o campo sintético. E ainda temos parceria com o CIEE, que ajuda no encaminhamento de jovens ao mercado de trabalho.”
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Tim destaca que o Bom Jesus conta ainda com duas escolas, duas creches e dois postos de saúde e está para ser inaugurada uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Para ele, viver no Bom Jesus é bom porque, além de ter tudo isso, ainda há um comércio que se mantém e é próximo da área central. A amizade e a colaboração entre os moradores são evidentes. “Aqui, muitos são trabalhadores safreiros e durante a pandemia foi muito complicado, mas conseguimos passar por essa crise com a ajuda dos amigos que estenderam a mão para a gente. É assim, o povo ajuda o povo”, afirma.
Divisor de águas na área da segurança
Os altos índices de criminalidade no Bom Jesus levaram à deflagração, em 2007 e 2008, de megaoperações chamadas de “Convivência em Harmonia”. Em fevereiro deste ano, uma reportagem publicada na Gazeta do Sul, no dia em que o coronel da Brigada Militar Valmir José dos Reis entrou para a reserva, relembrou essas ações. Atual secretário municipal de Segurança e Mobilidade Urbana, Reis recordou dos trabalhos na época, quando acabara de ser promovido a comandante do Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Rio Pardo (CRPO-VRP). “Ficávamos acampados dentro do Bom Jesus e envolvíamos 300 policiais. Chegamos a cumprir 124 mandados de busca e apreensão.”
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Segundo Reis, antes dessas operações, a Brigada entrava no bairro e era recebida com hostilidade. “Éramos apedrejados, trocávamos tiros. Lembro de certa vez em que uma viatura do Denarc, da Polícia Civil de Porto Alegre, que veio desavisada sobre como era o bairro, estava sendo tombada pelos criminosos. Tomamos providências, com muito trabalho de inteligência e ocupação de espaço. Os próprios bandidos começaram a entender todo aquele aparato e foi um choque que demos na época. Aquilo foi um divisor de águas.”
Contudo, não houve somente ações de repressão. A prevenção também era um dos focos das operações, incentivando crianças a conhecerem o trabalho da polícia. “Lembro do batalhão mirim, que formamos com 200 crianças do Bom Jesus, que desfilaram ali entre as ruas Adolfo Pritsch e Amazonas, um lugar hostil, com histórico de ocorrências. E os familiares das crianças, alguns envolvidos com a criminalidade, puderam ver esse outro lado também, o que na época gerou uma controvérsia muito grande.”
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Bom Jesus: o bairro das entidades
Copame
Fundada em 30 de outubro de 1984, a Associação Comunitária Pró Amparo do Menor (Copame) é uma instituição de acolhimento de crianças e adolescentes que estão em medida de proteção. “Eles são retirados de suas famílias e permanecem conosco enquanto fazemos um trabalho de reestruturação da família de origem para que retornem a essa família. Tudo isso dentro de um processo judicial”, explica a supervisora técnica Deise Carvalho Lamb.
Ao esgotar todas as possibilidades do retorno para a família de origem, esses menores podem ir para a adoção. Com capacidade para 45 crianças e adolescentes, atualmente a Copame abriga 41. “Eles moram aqui, a casa dessas crianças e adolescentes passa a ser a Copame provisoriamente”, diz Deise. A supervisora completa que a entidade se mantém por meio de convênios com municípios da região, sendo Santa Cruz o que garante o maior número de vagas. “Temos também convênio com Vera Cruz, Passo do Sobrado, Herveiras e Sinimbu. Esses municípios nos repassam recursos para que a gente garanta número ‘x’ de vagas.”
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Além disso, a Copame recebe doações espontâneas de pessoas físicas e jurídicas, e também conta com associados. “Essa é nossa manutenção financeira”, explica Deise. Situada na Rua Amazonas, no Bom Jesus, o acesso à instituição é restrito aos familiares que visitam as crianças e adolescentes e às situações de atividades específicas.
Asan
Outra entidade situada no Bom Jesus é a Associação de Auxílio aos Necessitados (Asan), que começou as atividades em 4 de novembro de 1948. “Ela iniciou acolhendo menores e mulheres grávidas abandonadas pelas famílias e foi evoluindo. Chegamos aos dias de hoje acolhendo idosos a partir de 60 anos”, comenta o coordenador Marco Moraes. O acolhimento é de idosos em situação de vulnerabilidade, como abandono, descaso e maus-tratos, entre outros tipos. “Hoje contamos com 72 residentes, divididos em graus. O grau 1 tem autonomia, o 2 tem algumas limitações e o grau 3 é aquele que é totalmente dependente de cuidados”, observa Marco.
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A Asan é formada por 45 funcionários. A equipe multiprofissional é composta por uma farmacêutica, duas enfermeiras, uma assistente social, uma nutricionista, uma fisioterapeuta e uma psicóloga. A entidade conta também com um dentista voluntário. O restante da equipe é formado por cuidadores, técnicos em enfermagem, cozinheiros e auxiliares, manutenção e funcionários do setor administrativo.
Como a Asan é filantrópica, todo residente começa com 70% do benefício destinado à instituição, para manutenção de modo geral. “Os outros 30% vão para uma poupança em nome dele, individual, que é para um gasto específico deles.” A instituição também está renovando o convênio com a Prefeitura de Santa Cruz para mais 50 vagas. Além de Santa Cruz, a Asan tem residentes de outros municípios.
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O coordenador salienta a importância das doações recebidas. “Se não tivesse nenhuma doação, a Asan não existiria, porque sem isso ela não consegue se manter”, acrescenta Moraes.
*Colaboraram os jornalista Cristiano Silva e José Augusto Borowsky
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