Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, uma várzea é uma planície fértil e cultivada em um vale. Em Santa Cruz do Sul, o Bairro Várzea já foi boa parte do município, sendo assim chamados também o Universitário e o Bairro Avenida. Atualmente, o Várzea está localizado depois da BR-471. Após reformulação nos bairros, acabou agregando também o Navegantes, que já não existe mais com esse nome.
O Várzea é também um dos maiores bairros em extensão territorial de Santa Cruz. Conhecido pela incidência de inundações em razão da proximidade com o Rio Pardinho, o lugar passou por mudanças para melhorar a qualidade de vida dos moradores, mas ainda precisa conviver e respeitar o espaço das águas. Porém, muito além da situação dos alagamentos, o bairro se mostra, a cada dia, um local próspero e onde o desenvolvimento encontra morada. Lar de diversificados negócios, o Várzea também abriga o Berçário Industrial do município.
“Inicia em um ponto localizado na margem leste do Rio Pardinho, ao norte da Rua Irmão Emílio, seguindo em linha reta, no sentido leste, alinhado com o limite sul do Distrito Industrial, instituído pelo Plano Diretor, até encontrar um ponto localizado no limite oeste da Faixa de Domínio da Rodovia BRS-471, seguindo por esta Faixa, no sentido sul, até encontrar um ponto localizado na Faixa de Domínio da Rodovia BRS-471, junto ao trevo com a Rodovia ERS-409, deste ponto segue, em linha curva, no sentido oeste, sempre pela Faixa de Domínio, até encontrar um ponto localizado na Faixa de Domínio norte da Rodovia ERS-409, seguindo então, no sentido oeste, sempre pela Faixa de Domínio, até encontrar um ponto localizado na margem leste do Arroio Preto, seguindo por ela, no sentido norte, até encontrar um ponto localizado na confluência do Arroio Preto com o Arroio Lajeado, de onde segue no sentido norte, sempre por sua margem leste, até atingir um ponto alinhado com a divisa sul do Loteamento Spengler, de onde segue em linha reta, no sentido oeste, até encontrar um ponto localizado na divisa do Loteamento Praia dos Folgados, seguindo daí no sentido sul, até encontrar um ponto na divisa sul do referido Loteamento, partindo daí, no sentido oeste, em linha reta, até encontrar um ponto localizado na margem leste do Rio Pardinho, seguindo por esta margem, em linha irregular, no sentido norte, até encontrar o ponto inicial.” – Trecho da Lei Ordinária 8.714, de 14 de setembro de 2021.
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De 2005 a 2008, o prefeito de Santa Cruz do Sul era o geólogo e mestre em Desenvolvimento Regional José Alberto Wenzel. Foi no último ano da gestão que Wenzel deu início e inaugurou os piscinões do Bairro Várzea. Natural de Cerro Largo, na região missioneira, Wenzel, que está com 70 anos, mudou-se para Santa Cruz com apenas 1 ano de idade, passando a residir em locais alagadiços. “Me criei na Várzea. Onde eu morava, hoje é o Universitário, mas naquele tempo se chamava Várzea toda aquela região. Eu percebia com muita clareza que a gente tinha que enfrentar essa questão das inundações, pois era um apelo popular. Na minha infância, quando chovia muito, não tinha como ir para o Centro, era preciso esperar as águas baixarem”, relembra.
Para enfrentar o problema, quando prefeito, Wenzel estudou alguns princípios norteadores, como respeitar o espaço das águas, compatibilizar a obra dos piscinões com o Lago Dourado e realizar um projeto de regulação das águas. “A várzea funciona como uma esponja, ela acumula e libera água, então esse espaço tinha que ser respeitado”. Mas o ex-prefeito também salienta ter pensado em tornar o bairro mais acolhedor, oferecendo um espaço de convívio para os moradores.
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O livro Lago Dourado e piscinões, de autoria de Wenzel, explica todo o projeto. O ex-prefeito de Santa Cruz observa que foi necessário agir duplamente. “Acelerando o fluxo das águas que vêm da zona urbana, não se devia deixar juntar as águas que vêm pelo rio quando chove nas cabeceiras com as que vêm pela cidade. Porque, como a cidade estava sendo muito impermeabilizada, mais rapidamente as chuvas chegam no rio. Trabalhamos de duas formas: acelerando as águas que vêm pela cidade, drenando-as pelo Arroio Lajeado e Arroio Preto, e retardando as que vêm do rio nos piscinões”.
Assim, foram construídos um piscinão ao norte e outro ao sul da Rua Irmão Emílio, que foi levantada para uma cota de 1,50 metro. “É aproximadamente a mesma cota do coroamento do Lago Dourado. Tudo está integrado, não é um projeto isolado. Dentro do piscinão também fizemos uma zona de convívio com campo de futebol e pracinha, isto é, quando não fosse período de enchente, essas seriam áreas de lazer, de convívio. É um projeto muito bonito que pretendia amenizar a situação da enchente”.
Wenzel recorda que, à época, discutiu-se a possibilidade de remanejar as famílias moradoras para outro local. Segundo ele, a decisão foi de manter as pessoas e melhorar a qualidade de vida delas. “Eu percebi que elas gostavam daquele lugar, cresceram ali, então tinha que se melhorar aquele ambiente. Eu tomei a decisão de deixar as pessoas, respeitar o espaço delas e das águas. Esse é o espírito público dessa obra”.
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Hoje, ao observar, Wenzel acredita que algumas coisas precisariam ser reavaliadas, como realizar um controle eletrônico, uma revitalização nos diques e recalcular a cota dos diques. O geólogo completa que é preciso cuidado com todas as áreas de inundação, em função das mudanças climáticas que vêm acontecendo. “É uma questão que vai se acentuar, vamos ter um movimento das águas de uma forma diferenciada daquilo que estamos acostumados a ver. Temos que ter uma visão de futuro em relação às águas e a primeira questão mais importante é respeitar a natureza. Se a gente souber sintonizar esse conceito, esse conhecimento, essa relação, vamos encontrar boas soluções”, complementa.
Para muitos, um dos principais pontos de referência do Várzea é a Escola Municipal de Ensino Fundamental Guido Herberts. Deise Clarisse Rodrigues, de 57 anos, trabalhou na instituição por 28 anos e conhece como poucos o bairro, do qual também é moradora desde 1993. A mudança para a casa da Rua Pastor Becker aconteceu no dia 24 de dezembro, e a noite de Natal foi comemorada no local onde a família passaria os próximos anos e onde Deise pretende passar muitas outras datas.
A professora aposentada recorda com detalhes como era o bairro. “Um descampado, não tinha nada, era uma roça de mandioca. Na década de 1980, começamos a construir. Quando começou a vir material de construção, tivemos que esperar o pessoal colher as mandiocas para poder chamar a Prefeitura e abrir a rua”. Na época, o lugar já se chamava Várzea. Deise completa que, com a unificação, o Navegantes também virou Várzea. “Uma curiosidade é que o Navegantes se chamava Praia dos Folgados, porque era um local de veraneio dos aposentados. Com o tempo, o lugar, que era muito bom para morar, foi sendo ocupado por famílias que ficaram definitivamente”.
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Depois de tantos anos dando aulas na escola, ela conhece boa parte da comunidade. Deise já foi professora de pessoas de duas ou três gerações de uma mesma família. O bairro, para ela, é bom de morar porque é tranquilo, todo mundo se conhece e conta com serviços necessários aos moradores, além de ficar perto de diversos locais da cidade. “Falta um posto de saúde, mas o resto tem”, observa. Envolvida com o Várzea, a aposentada se preocupa com os problemas do lugar. Apesar das qualidades, para ela, o bairro necessita de maior atenção do poder público. “As ruas não são grandes o suficiente para os caminhões que passam aqui”.
Deise também relembra dos alagamentos, principalmente o de 2010. “O piscinão ajudou muito, melhorou a situação”. A entrada e a saída da BR-471 são outro problema, segundo ela. “As sinaleiras nem sempre estão sincronizadas nas ruas Arthur de Jesus Ferreira e na saída da Coronel Oscar Jost. A gente não consegue nem entrar no bairro, nem acessar a BR. Por vezes, eu ligo para a Prefeitura e eles resolvem o problema. Eu acho que as sinaleiras poderiam ser sincronizadas de forma definitiva”.
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Com o tempo, o Várzea foi se tornando uma área cheia de empreendimentos, de variados tipos. Hoje estão instalados no bairro supermercados, fábricas, lojas, transportadoras, entre outros. A característica do bairro, voltada aos negócios, coincide com a instalação, em 1996, do Berçário Industrial. Ele funciona como um grande laboratório de experiências na área industrial para quem está dando os primeiros passos, e tem como foco receber empreendimentos que possam trazer algum diferencial para o mercado.
Também há uma vasta gama de microempreendedores individuais (MEIs), que encontram no empreendedorismo uma forma de sustento e acabam se transformando em profissionais reconhecidos. Uma dessas pessoas é a confeiteira Joelma Naue, de 42 anos. Há 14 anos ela trabalha com doces e salgados, principalmente para eventos. Durante a pandemia, viu-se em uma situação difícil com o cancelamento de festas, o que adiou o sonho de ter a própria cozinha industrial em casa, no Várzea. “Eu moro aqui desde os meus 8 anos. Eu gosto, nosso bairro às vezes tem uma má fama relacionada ao tráfico, mas para os moradores é muito tranquilo, é calmo e todo mundo se conhece. Estamos a cinco minutos de tudo, da Unisc, do Centro, da Rodoviária”, diz a empresária.
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Joelma já é conhecida no Várzea e a clientela vai muito além da vizinhança. As vendas ultrapassam os limites de Santa Cruz do Sul – ela chega a atender municípios como Sinimbu, Vera Cruz e Rio Pardo. “Não penso em me mudar daqui, minha casa é própria, o comércio é meu”.
O mercado, açougue e padaria Super Laçador também já é tradicional no bairro. Marcelo Carvalho, o proprietário, conta que o mercado existe desde 1998, mas começou em outro endereço, também no Várzea. “Viemos para esse endereço em 2010. Eu não morava aqui no bairro, resolvi colocar um mercado porque não tinha quase. Comecei pequeno e hoje tenho uma clientela boa”. Marcelo afirma que, mesmo com a presença de grandes redes de supermercados no Várzea ou nas imediações, a atividade comercial não é prejudicada. “São negócios diferentes, aqui é um mercado de bairro, que atende o público em volta. É a compra rápida, não é algo que vá competir, não afeta”.
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No atual endereço, bem perto da BR-471, o estabelecimento agrega clientes que trabalham em empresas próximas. “Não pretendemos nos mudar, vou me aposentar aqui dentro”, conclui.
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