A vida em cativeiro

De todas as estratégias possíveis diante da Covid-19, o isolamento horizontal ou lockdown é talvez a mais agressiva, ineficaz e covarde delas. Trancar pessoas saudáveis em casa é contranatural da espécie. Um desrespeito com nossos ancestrais que enfrentaram doenças e animais ferozes sem se esconder na caverna. Será que não teríamos outras tecnologias melhores, como medicamentos e álcool gel, a tal modo de não condenar nossa subsistência e liberdade?

Não há qualquer evidência científica robusta que garanta o isolamento horizontal como salvação. Bem pelo contrário. Experiências prévias em vários países já mostraram que pouco adiantou, a não ser para gerar prejuízos estrondosos, sofrimento generalizado e aumento de mortes por outras causas. Fechar escolas, então, é condenar inutilmente as crianças (principalmente as mais pobres) a mais fome, miséria e ignorância.

Já se percebe muito bem o efeito da vida em cativeiro que os governos estão decretando aos seus cidadãos. Aumento de peso, aumento do consumo de álcool, sedentarismo, alterações de sono, perda de libido, ansiedade e irritabilidade são fenômenos comuns. Interessante que muitos que defendem o isolamento são contra manter animais em cativeiro. Mas não se constrangem em querer prender todo mundo. Todo mundo não. Há quem defende o lockdown mas não abre mão de suas empregadas, diaristas, motoboys e demais humanos que os mantêm abastecidos.

Com a permanência no cativeiro, pode haver um aumento dos conflitos conjugais, separações, violência doméstica, agressividade, alcoolismo, depressão e suicídio. Não é à toa que lindos animais selvagens esmaecem quando presos e confinados, não se reproduzem, brigam e morrem, tamanho é o sofrimento.

Para aqueles que precisam ou querem ficar em isolamento, sugiro que tenham uma rotina bem estabelecida com horários de sono e refeições. Cuidados com alimentação e álcool, bem como atividade física, são bem-vindos. É um bom momento para aprender novas tecnologias que permitem contato virtual com outras pessoas e evitar a solidão. Se está em casa com crianças, aproveite para jogar e brincar com elas, de preferência com não eletrônicos. Diálogo e tolerância são aliados para uma boa convivência. Ninguém deve ser condenado por ficar em casa. Mas isso deve ser uma escolha e não uma ordem. Fascistas operam sempre contra a liberdade. Então, que se respeitem também aqueles que não querem ou não podem.

A vida não foi feita para ser vivida em cativeiro. Liberdade deveria ser um princípio inegociável para os seres humanos livres e de bons costumes. Cabe a cada um de nós tomar suas próprias decisões e arcar com responsabilidades. Elegemos políticos para administrar cidades e Estados, não para se meter a sacerdotes da salvação, prendendo e fechando em nome da vida. Ditadura do “bem” continua sendo ditadura. Liberdade sim. Cativeiro e focinheira, não. 

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