Ao chegar ao litoral pernambucano e se deparar com os rios e os mangues, é provável que o administrador holandês Maurício de Nassau visse naquele ambiente uma possibilidade de reproduzir cidades dos Países Baixos de onde a comitiva era oriunda. Afinal, ainda hoje, em fotos aéreas, as pontes que interligam pontos urbanos criam conexões que fizeram a cidade ser chamada, carinhosamente, de Veneza brasileira.
É claro que o centro histórico, como ocorre na maioria das capitais ou das cidades maiores no Brasil, já perdeu parcela de seu encanto. A falta de projetos de revitalização, o excesso de veículos em ruas estreitas e a nem sempre devida modernização fazem com que as populações migrem para outros bairros. Os turistas, por exemplo, optam em sua imensa maioria pelas centenas de hotéis de todos os portes e preços situados ao longo da Praia de Boa Viagem, uma das mais badaladas do país.
A longa avenida de mesmo nome liga o norte e o sul, com as águas azuis do Atlântico à direita. Do Aeroporto de Guararapes, que de imediato apresenta o visitante ao grande intelectual pernambucano (homenageia Gilberto Freyre), em minutos o visitante já estará instalado no quarto do hotel e mirando fascinado o mar até o horizonte a perder de vista.
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Da Praia de Boa Viagem, a pé alcança-se os pontos de interesse próximos: feiras de artesanato, quiosques de comida e bebida e (para os que não abrem mão disso) shoppings modernos, com destaque para o Recife. Em todos os ambientes, os turistas se deparam com a boa comida típica local, que não dispensa a carne de bode (em variados preparos), um mungunzá no capricho e, incontornável, um bolo de rolo para saborear ou para presentar aos conhecidos.
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Nos quesitos lembranças, vestuário e objetos de decoração, o Centro do Artesanato de Pernambuco é parada obrigatória. E, efetivamente, fica no caminho nas mais diversas andanças pela cidade, inclusive, por exemplo, em deslocamento (de não mais do que 20 minutos) até Olinda, que já foi a capital e a mais importante cidade dos tempos coloniais portugueses.
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Ou, ainda, de uma visita à Fundação Gilberto Freyre (sua casa, ao lado da esposa, Magdalena), ou ao Museu do Homem do Nordeste. E do centro do artesanato estarão bem à vista as obras do Parque das Esculturas Francisco Brennand, sobre os molhes ao longo da costa, construído para comemorar os 500 anos do descobrimento do Brasil, em 2000.
O ensaio Casa-Grande & Senzala, um clássico da sociologia, publicado em 1933 por Gilberto Freyre (1900-1987), possibilita ao leitor aproximação especial à cosmovisão que resultou na paisagem social, econômica e cultural do Nordeste brasileiro. Nesta obra, ele disseca, com seu estilo peculiar, esses dois ambientes, o dos senhores de engenho e o dos seus escravos, que foram a mão de obra a partir da qual se forjou essa riqueza regional, e colonial.
As investigações de Freyre estenderam-se, ao longo dos anos, a vários outros espaços, e resultaram em outros dois compêndios de consulta essencial: Sobrados e mucambos, de 1936, e Ordem e progresso, este já de 1959, volumosos e com excelentes reflexões do mestre.
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Uma visita a sua residência em Apipucos proporciona mergulho no tempo e o espaço que ele habitou. E, a partir do contato com seu mundo, com seus temas de interesse e sua condição de polímata, de interessado nos mais variados elementos culturais. Em 1939, por exemplo, publicara Açúcar, dedicado à culinária regional.
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E foi nesse contexto, já no ano seguinte, que escreveu dois livros que decorreram de verificações que fez em visitas a diferentes regiões nacionais, até o Sul. Afinal, na companhia do amigo escritor José Lins do Rego (1901-1957), e ciceroneado pelo escritor gaúcho Vianna Moog, Freyre estivera inclusive em Santa Cruz do Sul: em 1940, publica Uma cultura ameaçada: a luso-brasileira (diante da emergência de outras colonizações) e O mundo que o português criou.
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José Lins, por sinal, mereceu foto em lugar de destaque na casa de Apipucos, ali mantida ainda nos dias atuais. O mesmo Zé Lins que tão bem retratou essa cultura nos romances do “ciclo da cana-de-açúcar”, com destaque para Menino de engenho e Usina, justamente enquanto o amigo Freyre elaborava Casa-Grande & Senzala.
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