Categories: Romar Beling

A única coisa que importa

No Rio, a Olimpíada encaminha-se para o fim, com encerramento no domingo. Em Curitiba, Moro e sua equipe seguem empenhados na Lava Jato. Em Brasília, Temer trama acordos para se manter no poder enquanto Dilma, correndo por fora, trama para tirá-lo de lá e retomar a Presidência. Nas cidades ou nos distantes rincões, insegurança, desemprego, frustração, ansiedade.

Nada disso é forte o bastante para alterar o ritmo do trabalho nas imensidões do agronegócio: com os primeiros sinais da primavera, foi dada a largada para que produtores, em todos os segmentos, comecem a planejar a nova safra. Se em outras áreas é possível postergar decisões ou esperar por retomada econômica, na agricultura, que se rege pelas estações, não há tempo a perder: cada dia de atraso no preparo da terra, na semeadura e no plantio pode comprometer a colheita. E se o agricultor não planta, vai fazer o quê? Vai viver de quê?

Essa talvez seja a grande diferença entre a vida urbana e a vida rural. Se na cidade pode-se adiar, cancelar ou redirecionar investimentos, aguardando por ambiente mais propício, no campo é o ciclo de cada cultura que determina a urgência das ações. No tabaco, por exemplo, o produtor, que já fez o plantio da nova safra nas áreas baixas ou começa a se movimentar para o plantio nas áreas altas, não tem ideia de como estará o comércio ali pelo final do ano. No arroz, ainda que precise começar a preparar a terra nas lavouras, o orizicultor igualmente não tem clareza de quanto ganhará mais adiante. O mesmo vale para hortigranjeiros.

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Certo mesmo é que o custo de produção anda pesado, exigindo desembolso em energia, combustível, fertilizantes, defensivos, mão de obra. Na outra ponta, o preço dos alimentos (caso da soja e da carne de gado, por esses dias) oscila ao bel-prazer de Bolsas, safras em outros países, estoques públicos ou privados. Por isso, o que ocorre no meio rural (tempestade em uma região, granizo em outra, estiagem acolá) interfere na rotina de todos, a ponto de comprometer o abastecimento e abalar as finanças de cada cidadão.

Na cidade, a consequência é a imediata elevação no preço do produto. O consumidor pode até optar por alternativa. No campo, o produtor não tem a lamentar só a quebra na colheita: perde igualmente os recursos investidos. Mais: seu trabalho deu em nada. É uma aposta corajosa. A cada primavera, a cada novo preparo de área para o plantio, o homem do campo expressa o voto de confiança em que, dessa vez, com a colaboração do tempo e o bom-senso de governantes e mercados, possa sorrir satisfeito ao final da safra.

Bela lição se pode tirar desse empenho. É tão difícil de entender que só se pode colher quando se planta e, mais, quando se cuida? Dentro de alguns dias, a Olimpíada será passado, a Lava Jato seguirá… Haja o que houver, Usain Bolt, Michael Phelps, Moro, Lula, Dilma, Temer, todos a cada novo dia terão fome. Se terão fome, querem alimentos, justamente os alimentos que os agricultores começam de novo a plantar. Vamos também fazer nossa parte? Vamos dar um voto de confiança, cada um em sua área, para colher vida melhor adiante?

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