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A transferência do santuário

Desde as eras mais remotas o ser humano busca, no contato com a natureza, estabelecer conexões com o sobrenatural e o divino.

Os antigos celtas, antepassados de grande parte dos europeus, ingressavam nos bosques para render homenagens a Cernunnos, divindade protetora das matas e dos animais, representada como um homem com aspecto de cervo, rodeado por bichos. Curiosamente, a figura é muito parecida com a de Anhangá, implacável espírito protetor das florestas, para quem os Tupinambás deixavam oferendas ao pé das árvores. Também nas mitologias grega e nórdica, e no culto aos orixás, há deuses e divindades vinculados à natureza – Ártemis, Freya, Oxóssi…

A ideia de buscar a energia das árvores, de meditar no silêncio dos bosques, de encontrar a nós mesmos e ao divino no contato com o meio ambiente sobreviveu à derrocada da crença nos mitos da Antiguidade e está presente, inclusive, na tradição cristã. Consta que o próprio Cristo foi ao Monte das Oliveiras – um osásis verde em meio à aridez de Jerusalém – para rezar, às vésperas da crucificação. Não à toa, os franciscanos buscam, desde a Idade Média, dar mostras da grandiosidade do Criador pela representação artística das árvores e dos animais.

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E não será mesmo a natureza, em toda a sua exuberância e complexidade, uma sutil evidência da existência do Divino e um elo para nos conectarmos com Ele?

Penso que sim. É por isso que me entristece a notícia da transferência do Santuário de Schoenstatt para o Centro. O bosque, a capelinha, os pinheiros e as palmeiras – componentes de um ambiente divinamente desenhado para a meditação e a oração – serão deixados para trás, a área será vendida e as irmãs irão se instalar em um casarão situado na floresta urbana da Thomaz Flores. O que será da capela, ninguém sabe. Uma lástima.

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Não culpo as irmãs pela decisão. Seu argumento é forte: falta segurança no local e gatunos já teriam invadido a estrutura. Com a falta de segurança, também minguaram os frequentadores. Para piorar, entre os poucos que ainda se aventuram a visitar o local, alguns o fazem como quem vai a um ponto turístico qualquer, não há um santuário.

Mas, ainda assim, não me conformo. Como foi que nós, santa-cruzenses (e aqui me incluo), deixamos que a situação chegasse a esse ponto? Por que abandonamos o santuário à própria sorte, ignorando a riqueza espiritual que ele, com sua natureza exuberante, com sua capelinha aconchegante, poderia nos proporcionar?

Mais perguntas.

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Não haveria outra solução, menos drástica que a transferência? Quiçá câmeras de segurança inteligentes, instaladas mediante parceria entre o poder público e iniciativa privada?

Enfim… Deixaremos mesmo, passivamente, isso acontecer?

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