Ir à praia no verão é uma instituição sagrada para os gaúchos. É como o Natal, Ano Novo e Semana Farroupilha, além do Gre-Nal, é claro. Quem chega aqui, vindo de outros Estados e se aquerencia no Rio Grande do Sul, aprende rapidinho o que significa “a gente vai pra praia no findi”.
Na infância, meu avô materno – Bruno Kirst – mantinha um grande chalé de madeira, em vários cômodos, em Tramandaí, quase junto às dunas. Os adultos passam dias a fio no esforço para “desenterrar” as janelas cobertas de areia. Já as mulheres passam o tempo todo de vassouras e baldes em punho para deixar tudo limpo para aproveitar o clima de casa cheia com reencontros de famílias amigas e conhecidos que a gente só encontrava no verão. Todo ano era igual… e muito bom!
Já na adolescência eu acordava ainda no escuro, aos sábados, de mochila às costas em direção à freeway tentar, “no dedão”, uma carona em direção ao litoral. Foram muitas aventuras, algumas de muito medo em mãos de motoristas aprendizes. Mas havia a novidade da rodovia de várias pistas sem limite de velocidade, no nascimento da freeway.
Depois, como jornalista, participei das lendárias “coberturas de praia” como repórter da Zero Hora. A redação se localiza no primeiro andar do Hotel Beira-Mar, na Avenida Emancipação, onde ficávamos hospedados com a maioria dos demais veículos de comunicação.
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À época – final da década de 80/início de 90 – a invasão dos argentinos foi um fenômeno histórico, jamais repetido. Os hermanos polarizavam a atenção de balconistas, gerentes de hotéis, garçons e de vendedores. Os preços eram proibitivos para nós, nativos gaudérios, que arrastávamos enormes caixas de isopor com cerveja, refri e água e muito gelo. Em lojas, sequer éramos atendidos porque não falávamos o “portunhol”.
Gosto muito de praia, dos banhos no final do dia, quando o sol se despede e a noite chega de mansinho e muitas vezes a água está morna. Há muito tempo não vou ao litoral, exceção às rápidas fugidas de fim de semana. Acho muito cansativo pegar a estrada no final da sexta-feira e retornar no domingo, dia em que a cerveja é proibida por causa do bafômetro. São poucas horas de sossego, mas muitas filas no supermercado e posto de combustíveis.
Alimento o sonho – nem tão secreto! – de possuir um imóvel para as ”fugidas” ao longo do ano, distante do burburinho da correria semanal e, é claro, no calorão de verão.
A romaria rumo à praia perpassa gerações. Muita gente economiza, marca férias em sintonia com amigos e familiares, não liga para os congestionamentos na padaria e sorveterias. O que vale é molhar os pés na água salgada e nem sempre cristalina, mas repleta de esperança de um ano melhor, com mais saúde e otimismo.
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