Saúde e Bem-estar

A terapia celular biológica é um caminho?

A área da saúde vive em constante evolução. Novas vacinas, medicamentos e técnicas passam a fazer parte do cotidiano dos profissionais a cada ano, e gradativamente chegam também à sociedade, garantindo melhor qualidade de vida. Um dos casos de inovação na medicina é a terapia celular biológica. O nome é um aprimoramento do que até então vinha sendo chamado de medicina regenerativa.

A atualização da nomenclatura, acredita o ortopedista e traumatologista santa-cruzense Paulo Cezar Schütz, justifica-se pela ação da própria biologia do corpo, ou seja, as próprias células do organismo é que auxiliam na recuperação de tecidos danificados. Ele explica que a terapia biológica tem subdivisões, a partir do material utilizado: autóloga, que retira as células da própria pessoa; homóloga, que retira células da mesma espécie; e xenogênica, que retira células de outra espécie.

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Estes termos podem não ser de conhecimento ou de domínio amplo, mas, na prática, já se vive esse tipo de terapia. “Quando em uma cirurgia é realizada transfusão sanguínea, por exemplo, está sendo feita uma terapia celular, porque o sangue com células retiradas de outra pessoa é infundido no paciente operado. Não deixa de ser uma terapia celular biológica homóloga”, salienta.

Em entrevista à jornalista Maria Regina Eichenberg, no programa Rede Social, da Rádio Gazeta FM 107,9, Schütz enfatizou que em vários países avançam os estudos e inclusive a adoção do uso de elementos biológicos do próprio organismo na obtenção da cura de determinados tecidos, ou no reparo deles. E ressaltou que na própria área, da ortopedia e da traumatologia, o emprego de ortobiológicos já é uma realidade.

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Ele advertiu, contudo, que no Brasil tais terapias ainda são proibidas, pois, do ponto de vista médico, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não reconhece a terapia celular biológica como aceita no sistema brasileiro. “Só pode fazer esse tipo de terapia quem está vinculado a uma universidade, quem tem trabalho científico em andamento ou em fase de publicação”, comentou.

E não reluta em inferir que a indústria farmacêutica ainda barra esse avanço, uma vez que lucra fortunas com remédios ou sistemas sobre os quais pode ter controle. Os sistemas da terapia celular biológica são baratos, porque se usa tecidos, células do próprio corpo, orgânicas, e, como tal, não podem ser cobrados. “Mas funciona. Consegue-se levar pacientes que estão em determinado estágio a um estágio anterior àquele. Importa a qualidade de vida que essas pessoas obtêm através desses tratamentos, e tem-se um índice de satisfação muito grande com isso”, frisa.

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Em âmbito global, o aperfeiçoamento da técnica foi progressivamente tornando-se realidade na prática com a publicação de um artigo em 2008, na revista Regenerative Medicine, apresentando a possibilidade de substituição ou reparação de células, tecidos ou órgãos humanos para restaurar a funcionalidade normal. “Por algum tempo, equivocadamente, confundiu-se com antienvelhecimento, mas é algo diferente”, adverte. “A sinalização da terapia celular para produzir fatores de crescimento e fatores anti-inflamatórios no local de dano tecidual ocorre ao mesmo tempo em que o organismo está passando pelo seu processo de envelhecimento natural e inevitável.”

Método é usado em tratamentos de lesões ou até de osteoporose

Na especialidade de traumatologia e ortopedia, Paulo Cezar Schütz frisa a possibilidade do tratamento de lesões em atletas ou pessoas com osteoartrose, por exemplo. “A terapia celular pode estimular a recuperação de danos em células de origem mesenquimal, que compõem músculos, tendões, ligamentos, articulações e ossos”, afirma. Um exemplo clássico em que o próprio corpo repara danos utilizando-se de células para cicatrização acontece quando a pessoa tem um pequeno corte na pele. “As células do sangue extravasam na área do corte e participam de uma cascata de eventos para formar um coágulo, que é preenchido por fibrina, que, por sua vez, se transforma em células do tecido original no ferimento”, relata.

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Outro caso se dá quando há fratura de algum osso, situação em que será produzida, automaticamente, toda a cascata biológica no sentido de cicatrizar a lesão. Equipamentos como a haste intramedular, a placa ou o fixador externo servem para manter o alinhamento, mas o processo de recuperação ocorre por meio de autorreparo natural do organismo.

A terapia celular se expande para além da área de ortopedia, com avanços em outros segmentos, como cardiopatias, doenças pulmonares e doenças neurodegenerativas, por exemplo. Na medicina biológica ou regenerativa, utilizam-se os ortobiológicos, que são injeções com quantidades concentradas de contribuintes naturais do corpo humano, para tratar inflamação, melhorar a dor e acelerar o processo de cicatrização.

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Dentre os ortobiológicos, pode-se utilizar o ácido hialurônico, o plasma rico em plaquetas, plaquetas ativadas com fibrina, plaquetas com leucócitos, aspirado de células de medula óssea concentrado, aspirado de medula não-concentrado e células mesênquima da gordura. “Imagine ter um acidente vascular cerebral, com uma área do cérebro que perdeu sua função, e pode-se utilizar células naquele nicho de tecido com capacidade de regenerar a área afetada, estimulando a retomada de sua função original”, cogita.

Eventos pelo mundo difundem conhecimentos

O médico Paulo Schütz entende que há pouca divulgação a respeito dos efeitos positivos da medicina biológica devido à dificuldade na quebra de paradigmas em relação à medicina tradicional alopática, que trata doenças e sintomas, mas não explora as causas dos problemas de saúde. “Você está hipertenso, vai ao médico, e ele receita um anti-hipertensivo; está com problemas no sono, o mesmo vai receitar uma droga que induz o sono. A medicina tradicional não vai investigar as possíveis causas para o aparecimento das doenças”, aponta.

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Greice Fontana é médica ginecologista

Ele e a ginecologista e ultrassonografista Greice Fontana participaram de uma oportunidade de troca de experiências em terapias celulares com médicos em destaque na medicina regenerativa mundial. Isso ocorreu na 3ª Conferência Internacional sobre Células-Tronco, nos dias 19 e 20 de setembro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Schütz também é afiliado da Associação Norte-americana de Medicina Regenerativa, com sede na Flórida, e, em novembro, entre os dias 25 e 27, participará do 1° Congresso Internacional Saúde Integrativa, Biofísica e Tecnologias, em São Paulo, no Blue Tree Convention Center, na Chácara Santo Antônio, onde em palestra abordará a biofísica associada a saúde.

“As terapias celulares vêm sendo estudadas arduamente e são tratamentos promissores em inúmeras condições médicas. Existem muitos resultados satisfatórios, mas pouco é divulgado para a população em geral. Uma das dificuldades na aceitação da terapia celular é a falta de estudos que tenham um grupo controle que não receba a terapia celular, ou seja , o placebo, para que haja a comparação entre os resultados dos dois grupos. Quem vai aceitar participar de um estudo tendo um problema para ser tratado, mas que esteja no grupo que não recebe tratamento?” questiona. Isso já foi motivo de discussão no caso Tuskeg-ge devido aos aspectos éticos que envolveram negros portadores de sífilis que não receberam o tratamento em estudo.

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Outra questão é que as próprias pessoas ainda querem medicamentos químicos convencionais, patenteados pela indústria farmacêutica. A bigfarma sobrevive com a venda de tratamentos caros e contínuos aos pacientes, e acaba dificultando terapias naturais e biológicas de serem aceitas e difundidas, frisa Schütz. “Não se pode cobrar sangue do paciente quando é feita uma terapia celular. Pode-se cobrar é a técnica para manipular aquele tecido. O futuro da medicina é a terapia biológica”, afirma.

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