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A sombra atrás dos holofotes

No mundo do boxe, chama-se de sparring o parceiro de treinamento dos lutadores mais competitivos. É quem ajuda a preparar o boxeador, atuando muitas vezes como adversário em confrontos simulados. Sparring também é o nome de um filme francês de 2018, protagonizado por Mathieu Kassovitz.

Ele é Steven Landry, atleta em decadência que nunca chegou ao topo: no seu cartel de 53 lutas, constam apenas sete vitórias. Velho e risível aos olhos dos jovens, ninguém tem interesse em agenciá-lo ou representá-lo.

Para não abandonar o ofício, Landry decide trabalhar como sparring de um famoso campeão. Na prática, torna-se mero saco de pancadas. A certa altura do treino, o vencedor lhe pergunta, com sincera curiosidade: por que ele continua lutando boxe?

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“Por que eu gosto. E sei que não tenho o seu talento, mas gente como você também precisa de gente como eu.” Há uma zona de sombra atrás dos holofotes; lá está Landry. Alguém lembra de Max Brod? Mas de Franz Kafka, possivelmente, você já ouviu falar. O escritor tcheco de A metamorfose e O processo é um dos mais influentes da literatura mundial. Brod era seu amigo e testamenteiro.

Poucos dias antes de morrer – aos 40 anos –, Kafka enviou-lhe uma carta pedindo que queimasse seus manuscritos inéditos, pois ele não queria edições póstumas. Brod ignorou a ordem, preservou os escritos e é graças a isso que O processo e O castelo, entre outros textos, tornaram-se conhecidos do público.
Kafka não seria tão grande hoje se tudo dependesse de sua vontade. E muita coisa não existiria sem a ação de desconhecidos, pessoas que não inspiraram nomes de ruas, não têm monumentos em sua memória.

Na terça-feira, 29, a organização da Copa do Mundo no governo do Catar confirmou que “entre 400 e 500 pessoas” morreram durante a construção dos estádios para o torneio. Outras organizações estimam o número de mortos em milhares. Trabalhadores sem a mínima proteção legal, migrantes submetidos a jornadas extensas em condições desumanas. Há uma zona de sombra atrás das obras monumentais; lá estão, invisíveis, aqueles que as ergueram. Haverá monumentos em memória deles?

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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