Luis Ferreira

A soma de todos os rancores

Início de ano é aquela época de reencontros inesperados. Por acaso, esses dias conversei com um ex-colega dos tempos do Segundo Grau (hoje Ensino Médio), no Colégio São Luís. Não o via há décadas e quase nem reconheci na rua. Na inevitável evocação de memórias que se seguiu, as perguntas de praxe: e o Fulano, por onde anda? Tem contato? E o… etc.

Algumas respostas, infelizmente, não foram de praxe. Sobre amizades que vinham resistindo ao tempo e foram arruinadas de uma hora para outra. Por um motivo estúpido: política. Melhor dizendo, esse arremedo de política que existe hoje, um jogo de soma zero que consiste em instigar pessoas de opiniões diferentes a se odiarem e, eventualmente, se matarem. Uma preparação para um estado de guerra, e convém perguntar quem se beneficiaria em tal cenário.

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Alguém se beneficia, alguém sempre sai no lucro. E não são, certamente, os velhos amigos que rompem relações ou os familiares que se afastam. Esses só perdem. O mais sensato – se a sensatez fosse uma opção concreta – seria abandonar o jogo e declarar paz. Como diria um dos personagens de Vida e época de Michael K., romance do sul-africano J. M. Coetzee: “Estou falando com você de ser humano para ser humano. Tem uma guerra acontecendo, tem gente morrendo. Bem, eu não estou em guerra com ninguém. Decretei a minha paz. Entendeu?”

Mas talvez o texto mais direto e conciso sobre as ilusões armadas seja Consciência, um conto de Italo Calvino. Em lugar incerto, uma guerra teve início. Luigi ofereceu-se como voluntário. Assim que foi aceito, ele pegou seu fuzil e avisou: “Agora vou poder matar o Alberto”.

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Os outros ficaram intrigados. Mas que Alberto? “É um inimigo que eu tenho. Um desgraçado”, respondeu. Explicaram que deveria eliminar certo tipo de inimigo, e não só os que ele queria. Na verdade, Luigi ficava insatisfeito por ter de matar pessoas aleatórias, mas confiava que um dia chegaria no Alberto. Do contrário, todo seu esforço seria inútil.

Um dia os adversários se renderam, a guerra acabou. E nem sinal de Alberto. Luigi acreditava que tinha um inimigo, sonhava com ele, matou quem não queria e ganhou medalhas por isso.
Mas para quê?

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Ricardo Gais

Natural de Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais tem 26 anos. Antes de trabalhar na cidade, ajudou na colheita do tabaco da família. Seu primeiro emprego foi como recepcionista no Soder Hotel (2016-2019). Depois atuou como repositor de supermercado no Super Alegria (2019-2020). Entrou no ramo da comunicação em 2020. Em 2021, recebeu o prêmio Adjori/RS de Jornalismo - Menção Honrosa terceiro lugar - na categoria reportagem. Desde março de 2023, atua como jornalista multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, em Santa Cruz. Ricardo concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira (2016) e ingressou no curso de Jornalismo em 2017/02 na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Em 2022, migrou para o curso de Jornalismo EAD, no Centro Universitário Internacional (Uninter). A previsão de conclusão do curso é para o primeiro semestre de 2025.

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