E mais uma eleição se aproxima. O próximo domingo será dia de ir à urna, para votar neste ou naquele candidato, ou mesmo votar em branco – o que, ao contrário do que alguns dizem, é uma manifestação democrática tão legítima como qualquer outra. Importante é exercer esse direito de escolha. Afinal: “Direitos e liberdades: use-os ou perca-os”, já advertiu Millôr Fernandes. Os tempos são de permanecer atento. Usemos, então, antes que…
Difícil, nestas horas, evitar uma sensação de esterilidade, de que apenas praticamos um ritual político quase esvaziado de sentido. O filósofo carioca Alberto Oliva cunhou uma boa expressão para essa espécie de apatia: a “solidão da cidadania”, que se faz sentir quando o indivíduo/eleitor é tratado, sobretudo pelas autoridades constituídas, como um simples meio para a obtenção de determinados fins. Fins particulares, de conquista ou perpetuação no poder e enriquecimento próprio, alcançados por meio da redução do jogo democrático a um vulgar jogo de cena. Mal encenado, não raro cafona, como certas “performances” que às vezes presenciamos nas sessões da Câmara e do Senado.
Ao mesmo tempo, sabemos que a ética em falta na política é, guardadas as proporções, a mesma que também se mostra ausente na microfísica do poder, isto é, na capilaridade das diversas modalidades de reação praticadas no dia a dia, nas relações sociais. Virar as costas de nada adianta. Como disse Hannah Arendt, qualquer pessoa que não esteja interessada em assuntos públicos terá, simplesmente, de se satisfazer com o fato de que eles serão decididos sem ela – e a afetarão de qualquer maneira.
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É necessário agarrar-se àquilo que é um direito. A população já se sente órfã de vários direitos elementares, que a Constituição abstratamente lhe garante. Diariamente, é assediada por notícias infindáveis sobre fraudes de todo tipo: alimentos adulterados, remédios e combustíveis falsificados, recursos do SUS desviados… E o assustador é que só se chega a conhecer uma pequena parcela desses crimes, cometidos, eventualmente, sob as vistas de “representantes” eleitos pelo voto.
Se as violações de normas não são punidas, ou não são punidas de forma sistemática, tornam-se sistemáticas. A recorrência de escândalos e fraudes desloca o descrédito dos atores para as instituições. É aí que mora o perigo. Esta democracia representativa, ainda que imperfeita, é a que temos para o momento. Uma construção recente e difícil, sujeita a sabotagens e retrocessos. Busquemos, então, fortalecê-la. Porque já existe muito discurso antidemocrático circulando – democraticamente – por aí.
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