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A ressurreição dos valores humanos

A humanidade chega ao advento da Páscoa de 2020, a mais importante data no calendário de todos os que professam a fé cristã, em circunstâncias raramente vistas na história. Em dias nos quais os fiéis teriam acorrido às igrejas e aos templos em grande número, para participar das celebrações que rememoram a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, parece que as comunidades reencenam uma espécie de Via Crucis, num esforço de recolhimento e quarentena para evitar a contaminação pelo coronavírus. Assim, justamente neste final de semana, quando os cristãos teriam se dirigido às igrejas de suas comunidades a fim de rezar em conjunto, estão impedidos de fazê-lo, e, a exemplo do que ocorreu nas últimas semanas, terão de rezar sozinhos ou em família, em seus lares.

Por esse contexto, talvez a Páscoa de 2020, como nenhuma outra recente, deve estar motivando junto a cada pessoa, a cada família, profunda reflexão acerca do sentido da vida e das razões, motivações e perspectivas das ações individuais e coletivas, na região, no País, no mundo. Como a Gazeta do Sul compartilha na edição destes dias 11 e 12 de abril, em reportagem dos jornalistas Rodrigo Nascimento e Michelle Treichel, nos lares, na cidade e no meio rural, os cidadãos vão celebrar a Páscoa buscando recuperar alguns valores e elementos que já andavam um tanto perdidos, desacreditados, num mundo que se pauta por consumo desenfreado, por vezes injustificado, e não raro movido por ganância, insensatez, falta de escrúpulo.

A pressão sobre os recursos naturais resultante de um estilo de vida orientado por acúmulo descontrolado e avanços às cegas sobre a natureza coloca a todos sob o risco de uma derrocada completa. Não há recursos financeiros e nem há meio ambiente que deem conta de tamanha inconsequência, como revela a estiagem ainda em curso, a ameaça de falta de água e a assustadora poluição ambiental. Uma coisa é bem-estar, qualidade de vida e saúde; outra, completamente oposta, é render-se à exploração indiscriminada de recursos naturais e até de pessoas, transformadas em mercadorias, em números.

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Que as lideranças públicas e privadas possam sair deste cenário de ameaça do coronavírus, com reflexos e efeitos nefastos sobre a saúde e a economia, com novas perspectivas e novos posicionamentos, sendo um deles a busca, inadiável, de justiça e igualdade social. É impossível que um cidadão, não importa de qual classe social, se diga feliz num mundo em que tem de conviver com tanta gente infeliz; é a infelicidade que grassa. Assim como é inviável que alguém se diga realizado num mundo tomado por tanta frustração.

A Páscoa, com os ensinamentos de Cristo muito presentes, pode bem ser esse momento em que se promova a ressurreição de valores humanos, éticos, de justiça e respeito, sem os quais, se não levados em conta ou transformados em mandamentos, todo o resto perde o sentido. Que a Páscoa, como referem os artigos do bispo Dom Aloísio Dilli e do pastor sinodal Décio Weber, na página 2 da edição deste fim de semana da Gazeta do Sul, possa ser de fé, esperança e, principalmente, união. E não de alguns, mas de todos. De todos em sociedade. Feliz Páscoa.

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