De idade, são 77 anos. De Medicina, 50, sendo que metade deles à frente do Hospital Ana Nery. Com o nome marcado na história da saúde regional ao assumir a gestão e impedir que a instituição fechasse as portas no início da década de 1990, Lídio Rauber pretende encerrar a carreira de anestesista ao final de 2018.
E diante do diagnóstico da aposentadoria, ele agora já receita-se algumas doses semanais de descobertas, paladares, aromas e combinações no curso de gastronomia. Tudo para evitar o prognóstico do tédio, muito comum a quem tem uma atividade profissional intensa e para de trabalhar. “Eu sempre gostei muito de cozinhar. E acho que é importante para não ficar parado. Estou aprendendo muito. É algo que quero para mim, sem qualquer pretensão comercial”, enfatiza.
Aluno do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), antes de cada aula ele repete um ritual antigo da Medicina: farda-se de branco, vestindo touca e avental, este último com o nome bordado. “Tem sido uma coisa muito bacana. Aprendo muito convivendo com os mais jovens”, diz ele, que aos colegas é um anônimo. Praticamente nenhum já ouviu falar do doutor Lídio. Também pudera. Somando a idade de três deles não se chega aos quase 80 de Lídio.
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Entre fogões, panelas, livros de receita e condimentos, o perfil conciliador e perfeccionista que o acompanhou durante décadas não deixa de se manifestar. “Acho que é uma das coisas que trago da Medicina para cá. Se é para fazer, tem que ser bem feito. Outro ponto é o trabalho em equipe. Quando assumimos o Ana Nery não fui só eu. Teve muita gente junto”, relembra.
Se entre os colegas Lídio sempre foi um anônimo, para a professora não. Quando saiu de Rio Pardo e veio morar em Santa Cruz do Sul, Cátia Leal Silveira teve seu primeiro emprego justamente no Hospital Ana Nery, em 2005, tendo Rauber como seu primeiro “chefe”. Treze anos depois, os dois se reencontraram. Só que desta vez, a “chefe” é ela. “Eu fiquei até emocionada quando soube que ele seria meu aluno. É uma pessoa fantástica. Todos nós estamos aprendendo muito com ele”, enfatiza.
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E as lições passam por todas as etapas. A idade do aluno médico, lógico, o torna diferente dos demais. Mas isto não implica em nenhum tratamento diferenciado. Desde a limpeza das bancadas até a lavagem da louça, tudo é feito por todos.
No curso são ensinadas técnicas, conceitos e dezenas de receitas, com métodos diferentes de preparação. A leigos, a culinária ganha ar de ciência. E quando perguntado qual a principal receita que retira do curso, Lídio Rauber vale-se das milhares de vidas que passaram por suas mãos em meio século de Medicina. “O principal tempero para tudo é o amor. Tudo que se faz com amor fica melhor. Em qualquer profissão. Na Medicina e na cozinha não poderia ser diferente”, sentencia.
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