No rescaldo do Natal de 2020, resgato a experiência familiar, mesmo porque o evento envolve sobretudo o contexto da família. O ano atípico, com regras sanitárias e restritivas em pleno vigor, não permitiu participação na celebração religiosa, mas sim festividade do núcleo familiar, embora em número mais reduzido, e ainda assim expressivo, a começar pela presença de quatro netos, três deles ainda pequenos, o que, por si só, torna o ambiente mais emblemático e feliz.
É evidente, assim, que a grande marca viria a ser a presença do Papai Noel, garantida por um “Bom Velhinho” ao lado de uma Mamãe Noel, trazendo bela mensagem e, como não podia deixar de ser, representando o seu papel principal de grande presenteador. E, diante da realidade atual de os pequenos terem grande número de padrinhos, além dos pais, e poderem estar acompanhados dos avós e mesmo de bisavó, não se escapou de uma autocrítica interna sobre exagero nos presentes, a tal ponto de os pequerruchos se sentirem perdidos diante de tanta oferta.
Até houve quem sugerisse que fosse deixada uma parte para o próximo ano, e já houve iniciativa de guardar parcela para ser aberta em outra oportunidade e permitir assim melhor aproveitamento. Evidenciou-se que, apesar do efeito saudável que produz no lado econômico do comércio, a ânsia presenteadora passou dos limites racionais, ensejando um prometido redimensionamento da prática para a nova edição natalina.
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Outro momento interessante ficou reservado para o segundo dia de Natal, que em outras épocas tornava-se feriado no interior da nossa região de colonização alemã, onde as famílias se visitavam para continuar o festejo natalino e ver o presépio feito nas casas. Neste ano, por ser sábado e situar-se entre o Natal e o domingo, passou a ser um meio feriado, mas já não se repetiram tanto essas visitas, como foi possível conferir, não só pelo impedimento da pandemia, mas porque a tradição se perdeu.
Porém, ao menos na casa em que nasci, e hoje sob os bons cuidados da irmã Melita, na Linha Santa Eugênia, distrito de Monte Alverne, manteve-se a iniciativa de montar o tradicional presépio, com pinheirinho ainda nativo e todas as peças que representam o nascimento de Jesus e a formação de um ambiente idílico de campo, incluindo gramados, animais, estradas e até cascata de água emoldurando o espetáculo. Se não foi visitado pelos vizinhos, teve a apreciação de filhos e netos, que não deixaram de comparecer, tendo inclusive mais um a caminho.
A visita fez recordar os tempos de infância, quando se recolhia musgo e outros materiais para esta verdadeira obra de arte, que, no entanto, só podia ser vista após a conclusão e trazia ainda a surpresa de algum presente mais singelo no dia do Natal, longe, é claro, dos excessos atuais. Levou à lembrança, ainda, de que se ia de ônibus para a Missa do Galo à meia-noite, na Catedral. Tudo isso traz bons sentimentos e a reflexão sobre como vale preservar tradições e não perder o real espírito desse momento: o renascimento de ideais do verdadeiro personagem desse dia, que nasceu em meio a um ambiente simples, mas acolhedor, generoso e amoroso, que devíamos oferecer a todos que encontramos em nosso mundo.
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