No dia 12 de outubro comemoramos o Dia das Crianças. Depois do Natal e do Dia das Mães, o Dia das Crianças é, certamente, o de maior movimento para o comércio. Já para os pais, responsáveis ou familiares o problema ou desafio maior, às vezes, não é tanto saber o que comprar de presente para a criança ou jovem – eles já escolheram -, mas outras questões, como o custo financeiro do objeto desejado e até dúvidas se aquele item é apropriado, ou não.
Chantagens
Quem já não passou por alguma verdadeira chantagem emocional de crianças e jovens de sua relação? Muitas vezes, o pedido para ganhar determinado presente vem seguido de frases do tipo “todo mundo tem e só eu não…”; “eu prometo que faço isso ou não faço mais aquilo” ou, então, mais dramático ainda, “nunca mais vou pedir nada…”
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Influências
A causa dessa dificuldade é, de um lado, ser difícil para as crianças e jovens não se deixarem influenciar pelos comerciais, vitrines, anúncios, internet e pelas galeras – da escola, curso disso ou daquilo, grupo de dança, esportes, etc. – em que sempre aparece alguém com alguma novidade, despertando o desejo entre os colegas de ter algo igual. De outro, os próprios pais ou responsáveis que, sentindo necessidade de compensar eventual ausência – involuntária, necessária ou por desleixo mesmo – ou não sabendo como driblar as chantagens emocionais de seus dependentes, acabam cedendo.
Dificuldades de abrir o jogo
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Nos dias de hoje, conversar com os filhos sobre os mais diversos assuntos já é bastante comum. Entretanto, ainda é difícil para os pais ou responsáveis falarem com eles sobre dinheiro. Um dos motivos é que também não aprenderam porque, com seus pais, “dinheiro não era assunto de criança”. Outro, os próprios pais e responsáveis tem dificuldades de lidar com o orçamento, muitas vezes escondendo e enfrentando problemas financeiros. Os pais compraram um carro novo, por exemplo, mas não mostram aos filhos o financiamento nem as dificuldades que, eventualmente, enfrentam para pagar as parcelas do financiamento. É que dinheiro representa poder e, portanto, falar sobre dinheiro e, pior ainda, abrir as contas da família – quanto entra de salário ou renda, quanto e onde é gasto, etc. – pode significar abrir mão ou até perder o comando.
Por ser o mês do Dia das Crianças, a época pode ser aproveitada para começar a falar sobre dinheiro para as crianças e jovens. A estratégica é sentar com elas e compartilhar as principais informações do orçamento atual, sempre respeitando a idade delas e a capacidade de entendimento. Deixar de falar abertamente sobre o tema, esclarecendo limites ou, até, dificuldades pontuais que a família esteja passando, pode deixá-los mais inseguras, porque, espertas como são, elas já devem ter percebido que alguma coisa não vai bem.
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O exemplo
A melhor forma de ensinar os filhos a lidar com o dinheiro ou com outra coisa qualquer da vida é com o próprio exemplo dos adultos. Observadoras por natureza, se os país costumam retornar do shopping com sacolas de compras, muito provavelmente esse comportamento será copiado pelas crianças e jovens. Embora a televisão, o marketing publicitário e os grupos em que a criança e o jovem estão inseridos possam influenciar no consumismo, os maiores causadores por tal comportamento são os pais ou responsáveis, eventualmente consumistas.
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Sugestões
O educador Financeiro Márcio Martins dá algumas sugestões para começar a ensinar às crianças a lidar com o dinheiro de maneira mais saudável: 1) estimular a criança a pegar moedas e cédulas na mão; 2) mostrar o valor do dinheiro: uma forma prática é dar um cofrinho, onde a criança vai colocando moedas e cédulas de dinheiro recebidas aleatoriamente de pais, avós, tios, pessoas próximas, etc.; 3) estimular e ensinar a criança a sonhar: deve haver um objetivo para depositar moedas e cédulas no cofrinho que pode ser comprar alguma coisa específica que ela deseja muito, gastar numa viagem, etc; 4) comemorar sempre: toda vez que for realizado o sonho da criança com o dinheiro poupado, comemorar com ela.
Outra forma bem prática de introduzir as crianças e os jovens no mundo do dinheiro é através da mesada, quinzenada ou semanada. Como regra básica, a concessão de um valor semanal, quinzenal ou mensal deve ser negociada com a criança ou jovem, visando atender a determinadas despesas – o lanche, na escola, por exemplo – e, também, a poupar. Existem especialistas, como João Kepler Braga, que são contra a mesada. Kepler afirma que nunca deu mesada para nenhum de seus três filhos, justificando que, embora a mesada permita à criança aprender coisas interessantes, como organização, controle e disciplina, por outro, pode lhes passar a sensação equivocada de que sempre haverá um dinheiro garantido.
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Educação Financeira
Polêmicas à parte, as novas gerações começam a ter educação financeira nas escolas. Nos últimos anos, cresce o número de escolas em todo o país que incluem a disciplina em sua grade curricular, gerando resultados positivos em seus lares. Pesquisa realizada em parceria entre o Instituto de Economia da Unicamp, o Instituto Axxus e a Abefin – Associação Brasileira de Educadores Financeiros apurou que 100% dos pais ou responsáveis acreditam que o conteúdo aprendido pelos filhos ou enteados nas escolas pode ser absorvido pela família.
Conclusão
Para finalizar, uma frase do educador financeiro Reinaldo Domingos: “Ao ensinar aos filhos quais são as recompensas de se fazer uma poupança; ao mostrar que vida não é só ganhar dinheiro, mas também pagar contas; e ao fazê-lo entender que nem sempre eles terão tudo que desejarem na hora que quiserem, eles passam a lidar de forma mais consciente e saudável com o dinheiro e ficam mais preparados para lidar com eventuais problemas financeiros que possam ter de enfrentar quando crescerem.”