A cada final de ano, como se eu fosse um garotinho, anoto algumas promessas, das quais algumas cumpro e outras protelo. Revendo algumas surpreendo a atualidade de boa parte. Vejamos algumas: “não mais ir para a fazenda pela BR-290 por causa dos kamikazes argentinos”. Como já referi em artigo anterior, alguns hermanos, além de se acharem os reis do futebol, arvoram-se à condição de ases do volante: andam a mais de 150 km/h, ultrapassam no meio das pontes e até as esposas esquecem nos postos de combustíveis, tamanha a ansiedade. Sempre pensei que aquele que quer praticar o suicídio deveria antes se garantir de não levar alguém junto consigo. Devido à crise econômica, diminuiu o fluxo desses turistas platinos e relaxei na minha promessa.
Pronto, voltei a ir pela 290 e vi que nada mudou. Assim, a opção foi ir por Santa Cruz, Santa Maria, São Pedro, São Vicente, Jaguari, Santiago e daí Unistalda. É mais demorada a viagem, mas menos perigosa.
Outro propósito: passar Ano-Novo e Carnaval na fazenda. Percorrer os campos, comer a costelinha de um cordeiro, pescar. Apesar dos splits, lá naquela região é quente demais. Resultado, tive a péssima ideia de passar o Ano-Novo na minha casa em Xangri-lá. Foguetório noite e dia, gente embriagada, som alto, supermercados lotados. Agora me imporei uma multa por descumprimento de promessa se voltar a fraquejar. Passarei o Ano-Novo no lugar mais quieto que é meu apartamento, cujo andar alcança as nuvens, na Porto Alegre deserta e silenciosa.
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Novamente me descuidei de planejar o Carnaval e não acompanhei meu filho para um bate e volta ao Chile. Resultado: fiquei na praia onde, asilado, não pude sequer sair para caminhar. Por azar ainda fez o que os citadinos chamam de “bom tempo” (como se chuva fosse “mau tempo”). Já anotei: no ano que vem tranco bem a casa e me mando para qualquer lugar, desde que não tenha praia e não seja local turístico.
A propósito de praia: surgiu uma nova moda, a qual não consigo entender, mas parece ter vindo de Punta, de onde os emergentes falidos a importaram. Acordar ao meio-dia, tomar café, ir para a praia às 13 horas, arrastando cadeiras, vários trastes, uma enorme geleira, cheia de latinhas. Lá pelas 16 horas, com a moringa cheia de álcool, um petisco. Janta lá pela meia-noite. Perguntei aos meus botões onde achar um lugar sem exageros. Cidade bem pequena? E os bandidos que adoram explodir bancos e fazer cordões humanos?
Nosso problema são os maus modos. Para isso não adianta lei. Nem Moro, nem Bolsonaro. É terrível a situação de quem não teve berço.
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