Sou “praieiro” convicto. Deste piá, vou ao litoral e gosto de mergulhar no mar. Quando criança, era na casa do meu avô materno, sempre lotada. Cresci com a recordação na memória e no coração. Depois, já adulto, passei finais de semana em Tramandaí, onde meu pai, depois de décadas de trabalho duro, adquiriu uma casa. Mas ele nos deixou aos 52 anos, sem usufruir, conforme seus planos. “Vou ficar na paia com a tua mãe de outubro a abril para fugir do calor”, repetia.
Nos últimos anos, tenho sido um turista acidental na praia. Além de gozar de raras férias, falta-me disposição para o “bate-evolta” de enfrentar a free-way às sextas-feiras e domingo à noite. Fiz isso por décadas, mas cheguei à conclusão de que chegava muito mais cansado. Por isso, opto por ficar em casa porque Porto Alegre é mais calma aos finais de semana.
Confesso que neste ano foi difícil resistir à tentação de dar um mergulho no final do dia. O confinamento, a avalanche de notícias que disseminam o terror na mídia e a vontade de sentir aquela brisa litorânea por pouco não me levaram à praia por impulso.
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Apesar dos apelos, me contive. Lembrei-me de que tenho 60 anos, dos riscos de levar para dentro de casa o vírus maldito e que meu sogro, com 90 anos, está conosco. Mesmo assim, compreendo quem se mandou para o mar. Já escrevi (e repito) que a hipocrisia de quem condena as pessoas que caminham nos parques ou na beira do mar resulta da falta de autocrítica.
Quem, afinal, durante estes 11 meses, não subverteu alguma norma de segurança? Quem, até sem querer, não transgrediu um dos “sagrados mandamentos” da pandemia? Artistas globais, por exemplo, são implacáveis para ditar leis sanitárias, mas basta acessar suas redes sociais para ver que são adeptos do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
Com a proximidade do final do ano, comentei com minha filha que as praias estariam lotadas. Baseei minha opinião em alguns detalhes da (nova) rotina: as pessoas estão esgotadas física e mentalmente. Além disso, muitos que viajavam para o Nordeste ou para o exterior não poderiam sair do país ou teriam restrições para se deslocar dentro do Brasil.
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O fenômeno da pandemia gerou movimento inusitado na venda de imóveis no Litoral. Segundo alguns especialistas, a comercialização pode ter crescido 40%. Provedores de internet fizeram investimentos pesados porque muitas famílias passaram a trabalhar e ter aulas na praia.
Neste ano não deu, mas quem sabe em 2022? Vou torcer para voltar à praia. Dificilmente ao longo do ano teremos mudanças significativas de rotina. A vacina, apesar da esperança que traz, levará tempo para chegar a todos.
Como tudo na vida, as mudanças talvez tragam um rasgo de esperança à população do litoral. É uma região esquecida, de poucas indústrias; só é lembrada entre dezembro e março. Quem sabe isso não mude?
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