A Gazeta de quinta-feira passada publicou um artigo de Afonso Schwengber, a quem ainda não tenho o prazer de conhecer, sobre os fogos de artifício. Gostei muito da crônica, de estilo direto, claro, sem rodeios e salamaleques. Apesar de eu não achar graça nenhuma em fogos, nada tenho contra os não ruidosos.
Em qualquer lugar do mundo, exceção feita a alguns lugares atrasados, os fogos são tratados como algo perigoso. Ao ar livre ou fora dele.
Nos noticiários, os dedos e mãos amputados, os olhos arrancados e as coisas estúpidas de ano novo, carnaval e outras festas.
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Comprar fogos ruidosos deveria ser como comprar antibióticos: receita retida. Teria que ser como comprar uma arma de fogo: com papéis em dia, passando pela polícia e tudo; fogos têm pólvora, da qual dá para fazer munição de armas. Essa barulheira absurda incomoda demais, mas como existe gente que gosta de bobagens, vá lá. Para comprar fogos, o sujeito teria que entrar na loja munido de uma guia da autoridade competente. Essa guia teria que ser retida e clipada na nota fiscal. Para obter essa guia, o sujeito teria que fazer um requerimento à Prefeitura expondo as razões de incomodar os outros (juntando atestado psiquiátrico). O filho passou no vestibular lá na Universidade de Barro Amarelo? Dê-lhe foguetes! O comprador não acha bonito o céu estrelado, precisa do artifício humano? Adora assustar as pessoas normais? Ou odeia os animais?
Passo seguinte: onde quer soltar os foguetes? Perto de hospitais? Nem pensar. Perto do Centro de Santa Cruz, onde vivem milhares de idosos? Nem pensar. Perto da mata onde moram os passarinhos? Nem pensar. Soltar os fogos num lugar isolado ele não quer, por que será?
Quem sabe pode soltar os foguetes no porão de sua própria casa. Também não vai querer.
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Vejam o absurdo: o cidadão comum tem que entrar em filas e realizar um périplo demorado para obter uma licença ambiental. O fogueteiro não precisa de nada. Compra sem formalismos e solta onde bem entende e nos obriga a ouvir o que não queremos!
Mais uma observação: penso que os gestores públicos têm que refletir bem se bancar a compra desses artefatos não beira às raias da improbidade administrativa. Só quem não se informa apoia a aplicação de dinheiro num evento efêmero, quando há outras necessidades urgentes. As entidades públicas, que gastam nosso dinheiro, têm que observar prioridades. Estivéssemos morando num país em que reluzem o ouro e o dinheiro, todo mundo gordinho e são de lombo, até vai. Mas estamos mais pobres do que imaginamos.
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