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A praça é um livro aberto

Se alguma liderança – ou algum tomador de decisão – ainda tinha dúvidas quanto à pertinência de realizar a Feira do Livro em ambiente aberto, na Praça Getúlio Vargas, o feito de 2017 deve ter suplantado qualquer inquietação. Concluída no domingo, a 30ª edição da maior festa da literatura no centro do Estado provou por que o lugar dos livros é na praça. 

Na condição de evento cultural efetivamente preocupado com a interação de público das mais diversas origens sociais (haveria outra razão para que se promova cultura?), a feira acolheu a todos. As pessoas puderam circular, prestigiar atrações artísticas, manusear livros expostos nas bancas, adquirir algum, ouvir escritores, assistir a peças de teatro, tomar chimarrão, ou pura e simplesmente apreciar o ir e vir das gentes, sem outro compromisso que não a abertura das mentes.

Em anos anteriores, a feira chegou a ser levada para um pavilhão. Não combinou. Não combina. Num primeiro momento até se entende a lógica do argumento: risco de intempéries, tendo em vista que livros são frágeis em relação a chuva, vento, umidade; comodidade para visitantes (em especial crianças e estudantes) e, claro, o ponto de sempre, os custos. Mas em todos os casos cabe ao poder público intervir a fim de proporcionar o mínimo de segurança, e nem por isso abrir mão da praça. 

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Isso ficou assegurado em 2017. A estrutura montada foi eficiente, como se pôde ver mesmo em dias de mau tempo. Claro que em alguns horários a chuva intensa pode ter inibido pessoas a sair de casa e se deslocar até a praça. Porém, os que estiveram por lá jamais deixaram de ficar protegidos e de circular com tranquilidade.
O que se pode (e deve) comemorar é a mensagem transmitida ao público, a do acolhimento em ambiente voltado ao saber.

Uma feira literária, ao contrário de eventos direcionados a consumo em geral, não se mede só por vendas, e nem por afluência. Mede-se pelo fermento na educação, e se isso não for prioridade, então nada mais é. A Feira do Livro talvez seja o mais importante (não precisa ser o maior) evento de Santa Cruz. Claro que há promoções que atraem centenas de milhares de pessoas. A proeminência da feira não está no fato de que movimenta dinheiro, ou fomenta negócios, ainda que inclusive isso está fazendo. Seu valor está no fato de que movimenta as ideias, promove sinapses, abre olhos, oferece horizontes, instiga o cérebro. 

E não há negócio que substitua tal papel. Na feira pode-se comprar livro a R$ 1,00 (e dos bons!). Por R$ 5,00 ou R$ 10,00, obtém-se um pequeno patrimônio. São outros os parâmetros. Para isso, não basta o livro em si: é preciso uma pessoa preparada para achar o livro certo, e talvez seja esse o terrível gargalo em países como o Brasil. Portanto, não se pode levar em conta apenas retorno em cifras, até porque há coisas bem mais importantes do que cifras. A começar, há a própria vida, com valores sempre diferentes do que os da moeda (fria, como por vezes podem ser corações e almas).

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A salientar, na feira, há a crescente participação de escritores locais, com lançamentos em variados gêneros. Essa presença comprova que Santa Cruz, mais do que ter uma ótima feira, já desfruta de um sistema literário, algo raro em cidades do interior: tem autores, tem leitores e tem espaço para a interação entre ambos.

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