E cá estava eu, escrevendo um texto para esta coluna, quando Ágatha adentrou entusiasmada no escritório para propor:
– Pai, que tal tostarmos alguns marshmallows? Faz uma fogueira para a gente?
Fiquei de pensar no assunto e ela saiu.
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Esse negócio de tostar marshmallow não é do meu tempo. Lá nos altos do Bairro Pedreira, onde me criei, ninguém fazia isso. Creio que nem havia marshmallows à venda na época. Até falar e escrever o nome dessa guloseima é difícil…
Trata-se, acredito eu, de um costume norte-americano que por aqui aportou de carona com filmes de Hollywood, da mesma forma que as festas de Halloween.
Contudo, decidi considerar a proposta da caçula e, no instante seguinte, já estava planejando como faria a fogueira. Concluí que poderia reunir alguns gravetos no quintal, cercá-los por pedras e acomodar, rente ao fogo, alguns cepos ou tijolos para servirem de assentos. Então, ao cair da noite, reuniria as crianças para assar marshmallows e contar histórias de fantasmas – igual aos filmes. Pareceu-me, na hora, uma boa maneira de quebrar a rotina da quarentena.
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Porém, Ágatha estava sem paciência para esperar a chegada da noite, tampouco para aguardar que fosse levada a cabo toda essa operação de reunir gravetos, pedras e cepos. Agindo pelas minhas costas, fez lobby com as irmãs e, enfim, angariou aliadas para a difícil missão de convencer a Patrícia a autorizar que tostassem marshmallows sobre o fogão, na cozinha mesmo. Não foi assim tão difícil – minha esposa também concluiu, sem demora, que era uma boa forma de quebrar o marasmo do confinamento.
Claro que a Patrícia se prontificou a participar – jamais deixaria as gurias sozinhas ao redor do fogão. No entanto, mesmo sob cuidadosa supervisão, tostar marshmallows revelou-se uma operação complexa e arriscada.
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– Mas afinal, como saber se já está bom? – Logo quis saber a caçula, suspendendo sobre a boca do fogão, na ponta de uma vareta de churrasquinho, o seu marshmallow.
– Sei lá… – interveio a Yasmin, também segurando o seu. – Acho que alguma coisa acontecerá e, então, saberemos.
– Ahhh, vocês duas não sabem de nada – desdenhou a Isadora, girando sua guloseima sobre o fogo. – Aprendam com a mestre…
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E foi aí que o marshmallow da Isadora incendiou, convertendo-se em uma longa labareda, que só extinguiu-se sob a torneira da pia.
Querem saber se as marotas se assustaram? Pois caíram na gargalhada, em meio a zombarias:
– A Isadora achava que era pra fazer uma tocha! – Caçoaram as irmãs.
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Já para nós, pais, foi mais um aprendizado, que compartilho a pretexto de encerrar a coluna de hoje com uma lição de moral: fogo e crianças, nem pensar.
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