Como já havia descrito em outra coluna, meu pai deixou de ser o pacato alfaiate de Trombudo para exercer o cargo de subprefeito, que consistia em coordenar os funcionários braçais e o motorista do caminhão que zelavam pelas estradas, valetas e pontes do distrito.
Todavia, a missão de subdelegado não era nada fácil para seu Haeser. Resolvia os pequenos atritos familiares com maestria. Se precisasse, usava a vara de marmelo para colocar ordem na casa. Porém, lidar com os ladrões de galinhas, gado e cavalos, além das brigas em quermesses, carreiras de cavalos e discussões por divisas de terras não era uma tarefa simples para solucionar. Ainda bem que o soldado Getúlio o acompanhava nas diligências pelo interior.
Domingo, no fim do dia, a rotina foi quebrada. Montado no seu cavalo, Getulino trouxe a terrível notícia. Contou sobre uma briga generalizada na cancha de bochas do Chico do Faxinal de Dentro. Depois de muitas garrafas de cerveja e cachaça, os ânimos se exaltaram. Duas famílias rivais se desentenderam. Era facão de três listras para todo lado. O sangue escorria entre os brigões.
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Getulino continuou o seu relato, dizendo que o temido Zé Caolho entrou em ação. Sempre andava armado. Puxou seu revólver 38 e deu o tiro fatal no seu inimigo Frutuoso, que morreu na hora. Fugiu do local no seu cavalo e desapareceu em desabalada carreira. No cenário da briga, ficou um morto e vários feridos.
O assassino Zé Caolho deveria ser preso. Que situação penosa de solucionar, ainda mais que o revólver que o seu Haeser herdara de seu pai nunca funcionara. E o Zé tinha fama de mau. Certamente não se entregaria com facilidade.
No outro dia, seu Haeser telefonou para a cidade. O único aparelho existente na vila estava instalado no Salão Machado. Levou quase a manhã inteira para conseguir a ligação. Depois de muitas maniveladas, conseguiu a ligação e falou com a Brigada Militar. Precisaria de reforço para prender Zé Caolho, que morava nos confins do Rincão do Touro.
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O caminhão da subprefeitura levou meu pai e seu auxiliar até as imediações da casa do meliante. Ficariam escondidos até que chegassem os demais policiais. Notaram uma nuvem de poeira na estrada. Era o fusca da polícia, que vinha em alta velocidade e carregado de brigadianos. Que alívio!
Com cuidado, Haeser se dirigiu em direção à casa, mas sempre se protegendo atrás de uma árvore, e deu voz de prisão para Zé Caolho. O meliante reagiu à bala. Uma única. Quando viu os soldados armados até os dentes e prontos para reagir, jogou seu revólver fora e se entregou. Preso, foi levado direto para o xilindró. Sem direito a embargos infringentes.
Ainda bem que o revólver do seu Edwino não precisou ser usado.
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