Sou um defensor incondicional do ciclismo, não só como prática saudável, mas como meio de transporte ecologicamente correto. Acredito que o ciclismo pode salvar o mundo. Os europeus já se deram conta disso e a moda, por lá, é ir trabalhar de bicicleta. Pensando assim, tenho grande admiração por grupos que incentivam essa prática, como é o caso do Santa Ciclismo, e por anônimos que adotaram a bicicleta como estilo de vida.
Dias atrás fui dar um passeio de bicicleta levando nossa caçula, Ágatha, na cadeirinha. Já estávamos voltando quando um quase-acidente me chamou a atenção. A quase-vítima foi outro ciclista, que levou uma fechada de um automóvel. O motorista havia virado bruscamente à direita, para estacionar na frente de uma tendinha de melancias.
O ciclista, todo paramentado e com uma bike superequipada, demonstrou habilidade e conseguiu desviar do carro, evitando a colisão. E não deixou barato. Sem descer da bicicleta, passou pela janela aos gritos, xingando um bocado o motorista.
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Pude sentir, em suas palavras, o sentimento de revolta de quem sempre leva a pior na disputa cotidiana entre pedais e motores, entre pernas e parachoques. De quem precisa conquistar no grito o seu espaço em um trânsito onde, por conta da nossa cultura de adoração aos pistões, as bicicletas não têm vez. Lembrei, na hora, daquele caso dos ciclistas atropelados durante uma manifestação, em Porto Alegre – episódio que se tornou símbolo da luta dos ciclistas por mais respeito.
Entretanto, pedalei de volta para casa me perguntando, enquanto a Ágatha tagarelava na cadeirinha, se os xingamentos daquele ciclista teriam sido a melhor forma de ele conquistar o respeito que merecia. O motorista, de fato, foi descuidado. Talvez estivesse encantado com a beleza do sol do fim da tarde refletindo sobre o verde das melancias, talvez estivesse até salivando, ao imaginar o vermelho da fruta derretendo na boca. E, nessa fração de segundos de distração, quase causou um acidente bem grave. Porém, duvido que tivesse intenção de machucar alguém.
Acredito que um comentário mais educado poderia ter causado, sobre aquele motorista, um efeito pedagógico bem mais eficiente do que aquela gritaria toda. E penso que isso vale para todas as situações em que nos sentimos prejudicados – seja na fila do banco, no erro do troco ou no meio da sonzeira que vem do rádio do vizinho. Trata-se de uma constatação pragmática, também corroborada por todos os teóricos ligados à psicologia, coaching e gestão cujos textos tenho lido: educação e tolerância têm mais efeito prático do que a imposição e os gritos.
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