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A Páscoa ‘das antigas’

Às vésperas da Páscoa, recordo dos tempos de piá quando essa comemoração religiosa agitava nossa casa. Ao longo da semana éramos orientados a colocar um calçado na janela antes de dormir para que o coelho deixasse um mimo da época – bombom, chocolate ou mesmo uma bala – durante a madrugada.

Minha mãe costumava usar farinha de trigo para imitar as pegadas do coelho no assoalho. A sujeira era grande, mas havia muita excitação todas as manhãs para conferir se havia algo dentro do chinelo ou tênis deixados na janela. No domingo de Páscoa, muitas vezes corríamos horas a fio em busca dos ninhos. O terreno em torno da nossa casa era grande, havia muita vegetação e meus pais eram implacáveis na hora de manter a tradição.

Atualmente noto que essas tradições se repetem com maior ênfase nas escolas infantis, onde as professoras se esmeram na celebração das festividades pascais. Não deve ser muito fácil, afinal, a gurizada anda hipnotizada com smartphones, tablets e outras engenhocas tecnológicas que dominam as brincadeiras.

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Além disso, o preço do chocolate “está pela hora da morte” como se dizia antigamente. O custo para integrar todas as crianças deve ser alto, mas pelo que se vê na rua, a tradição da Páscoa continua com seu prestígio intacto. Proliferam orelhas gigantes pelas ruas.

Na segunda-feira pós-Páscoa, nosso passatempo era levar cascas de ovos de galinha decorados recheados com amendoim doce para consumir no recreio. Devorada a guloseima, as cascas eram quebradas na cabeça dos colegas, mas a sacanagem consistia em esmigalhar os ovos nas gurias de cabelos longos. Elas ficavam indignadas e era confusão na certa.

São lembranças que ficaram na memória. Nesta Páscoa, que pela primeira vez passarei sem meus pais, as tradições voltam com mais força. Meus dois filhos, já adultos, adoram ouvir os relatos. Sempre começam com a mesma frase:
– Pais… como era no tempo de vocês?

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A última pergunta sobre  “os tempos de piá do pai” foi motivada pela curiosidade sobre viver sem celular e internet. Mas isso é assunto para outra crônica. Abraço, feliz Páscoa!

TI

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