Éuma espécie de coroamento de uma trajetória artística quando a obra de um autor merece abordagem crítica ou analítica em seu conjunto. Acaba por ser o reconhecimento quanto à contribuição ou quanto à pertinência daquele conteúdo intelectual. E assim pode ser considerado o projeto que o professor, escritor e ensaísta Eduardo Jablonski concretizou em torno da obra da escritora, filósofa, ensaísta e professora Marli Silveira.
No livro Marli Silveira, um ser humano para o outro, que chega às livrarias sob o selo da editora Bestiário, de Porto Alegre, Jablonski ocupa-se, com seu conhecimento teórico, crítico e de apreciação, de recorte das obras de Marli. Sua atenção recai sobre conjunto em sua maioria mais recente, de pouco mais de uma década.
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A começar por Transversos, de 2011, no qual a autora estabelecera parceria com o poeta amazonense Thiago de Mello (1926-2022), na ocasião em que este fora o patrono da Feira do Livro de Santa Cruz do Sul naquele ano. E concluindo com Singularidade arredia, nesse caso uma parceria com a professora Lilian Cordeiro, em que ambas refletem sobre a identidade e o corpo feminino.
Um único título antecede esse corpus produzido nas décadas de 2010 e 2020. É o volume de cunho teórico-filosófico O pêndulo da angústia, de 2003, no qual propõe uma reflexão a partir dos escritos de Heidegger, uma de suas principais influências intelectuais. O pensador alemão perpassa boa parte de sua produção ensaística, ora central em sua bibliografia, ora como apoio ocasional.
A leitura crítica e analítica que Jablonski faz, portanto, não se atém a apenas um gênero de texto no qual Marli produziu. Conforma, antes, uma leitura cruzada entre diferentes manifestações, da poesia ao ensaio acadêmico, da abordagem filisófica a depoimentos, muitos dos quais sínteses de parcerias com outros artistas ou professores.
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Em sua apresentação, Jablonski comenta as circunstâncias que o levaram a se deter na obra de Marli. A partir de um contato estabelecido durante a Feira do Livro de Porto Alegre de 2023, sentiu-se mobilizado a fazer uma leitura mais aprofundada da bibliografia da autora, que, na totalidade, ultrapassa três dezenas de títulos. “E conheci uma pessoa culta, inteligente e grande escritora, uma das melhores do Estado”, frisa.
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Entrecruzamento de olhares
Com a base de sua formação advinda da licenciatura em Letras Inglês e Filosofia e ainda de Letras Espanhol, que atualmente cursa, Eduardo Jablonski, aos 55 anos, trabalhou como professor universitário por quase duas décadas. Atualmente, está vinculado à rede municipal de Santo Antônio da Patrulha e ainda ao magistério estadual.
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Além da graduação e de especializações, é mestre em Literatura Brasileira pela Ufrgs. A partir dessa formação tem se dedicado a elaborar artigos, ensaios e resenhas, focando autores e obras. Publicou 33 livros individuais, em muitos deles apreciando parcela da produção de pares da literatura gaúcha, como já fez em relação ao poeta e contista José Eduardo Degrazia.
Em suas investigações, nas quais, como é de compreender, ocorre o entrecruzamento de referências a partir do amplo acervo com o qual trabalhou ao longo do tempo, na docência ou na escrita, deixa entrever sua ampla formação intelectual. Lança mão de pensadores antigos e modernos, de Aristóteles, Platão e Cícero a Montaigne, Schoppenhauer, Freud, Hume, Hobbes e Gadamer, entre outros. Na literatura, Rilke, Rimbaud, Pessoa, Piglia, Quintana, Tolstói e Erico Verissimo estão citados, propondo e iluminando reflexõesem torno da obra de Marli.
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