Nessa segunda-feira fez 40 anos que o PMDB, em convenção nacional, escolheu a chapa Tancredo Neves e José Sarney para a sucessão de João Figueiredo, e para concorrer com a chapa governista Paulo Maluf-Flávio Marcílio. Tancredo me contou que, a pedido de Ernesto Geisel, fora a Montevidéu convencer o então vice-presidente João Goulart a aceitar o parlamentarismo, para poder voltar ao país e assumir a presidência, surpreendido que fora, enquanto estava na China, com a renúncia do presidente Jânio Quadros.

Sarney, o vice da chapa, tinha sido da UDN, partido da direita; depois ingressou no partido criado pelo movimento de 1964, a Arena, onde ficou por todo o governo militar, até a mudança de nome para PDS, de que foi presidente. No ocaso do governo militar, participou da criação da Frente Liberal, que se tornou PFL, e filiou-se ao opositor PMDB, para ser candidato a vice – e se tornar, por cinco anos, o primeiro presidente após período militar.

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Não sei se os leitores que não testemunharam isso, como eu testemunhei, vão entender. Creio que não, porque até para quem viu, há dificuldade de encontrar a lógica. Saio com uma vantagem: já não me surpreendo com o que vejo. No dia em que nasci, o ditador Getúlio Vargas baixava um decreto-lei para ele próprio nomear o presidente do Supremo. E o que ele nomeou, quando Getúlio foi derrubado e o Congresso estava fechado, foi indicado pelos militares para ser presidente interino. Era José Linhares, que aproveitou para nomear tantos parentes, que o trocadilho em voga era “Os Linhares são milhares”.

Já não me surpreendo nem mesmo quando o próprio nome do país perde o significado, porque República Federativa do Brasil reduz-se a um rótulo escrito na Constituição, como muitos outros, já que na prática é uma república unitária, pois os estados têm pouca autonomia e dependem de recursos e da boa vontade do governo federal. Aliás, se a gente for ampliar a exigência, vai achar que República também é marca de fantasia. Tanto quanto foi a marca de Nova República, nascida há 40 anos.

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A nova república repete a velha em seus defeitos e tem outros, como, por exemplo, a mistura do chamado crime organizado com a política. Além disso, tivemos a Lava-Jato da nossa desesperança. Sonhávamos com o fim da impunidade entre os corruptos. E agora os eleitores recebem de novo resultados das convenções partidárias para a eleição municipal de 6 de outubro com a mesma surpresa risível com que nós, jornalistas, acompanhamos a mistura improvável de gente antes antagônica, na convenção de 40 anos atrás.

Nomeadores de gente no serviço público, como Linhares, estão aqui, enchendo as folhas de pagamento e os ministérios. E ainda temos “Getúlio Vargas” como há quase 84 anos, inventando decisões acima da Constituição. Pagamos pelo pecado da passividade e desinteresse pela política. E como lembrei acima, naquele tempo de Vargas não havia Legislativo. Hoje o Congresso está ficando tão significativo quanto o rótulo de federativa, na República do Brasil, a Nova.

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Alexandre Garcia

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