A democracia é uma criança frágil que exige cuidados diuturnos. Vacilações e hesitações podem significar retrocessos irrecuperáveis. “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, teria dito John Philpot Curran, embora outros creditem a frase a Thomas Jefferson. É frase surrada pelo uso, mas é cada vez mais atual.
Domingo marcou o epílogo de uma das disputas mais deseducadas da história da política brasileira. O eleitor foi invadido por conteúdos que em tempos normais só iriam ao ar depois das 23 horas através de redes de rádio e tevê. É um fato a lamentar diante da preciosa oportunidade para difundir propostas de solução para um país com problemas graves.
O segundo turno foi mais um capítulo na refrega que se iniciou em 2018 com a eleição de Jair Bolsonaro. Por ironia, ouvi com insistência, no dia seguinte à vitória de Lula, ou seja, na última segunda-feira, 31, a expressão de que “agora o momento é de todos torcerem pelo Brasil porque, se o país não der certo, todos perderão”.
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A frase foi repetida justamente por grande parte de comunicadores da grande mídia que durante quatro anos fizeram de tudo para “derrubar o piloto do avião chamado Brasil”. O massacre de notícias negativas – muitas distorcidas – e com raras exceções para iniciativas exitosas do governo federal foi marca registrada ao longo desse período. Por quatro anos, a opinião sobrepujou a informação. Veículos optaram por fazer campanha eleitoral ao invés de produzir informação. Para ambos os lados, desvirtuando as funções sociais que deveriam cumprir desde a sua fundação.
Bolsonaro não soube conter o ímpeto belicoso que marcou sua trajetória na caserna e no parlamento. Em ambos os ambientes, colecionou desafetos. Também não soube trabalhar pela convergência, recuar quando necessário, e culminou com erros na escolha de interlocutores. Entre eles, os filhos, pródigos na estratégia do “bateu, levou”, o que só ampliou o leque de desafetos.
Neste ambiente, Lula, com extrema habilidade, soube despertar a militância adormecida desde a Operação Lava-Jato e a cassação de Dilma Rousseff. Orador de rara competência, forjada nas hostes sindicais, inflamou multidões, captou o sentimento de rejeição a Bolsonaro. A “infantaria vermelha” ocupou as ruas. Parte do eleitorado acreditou na versão do veredito de inocente do candidato. Mesmo que ex-ministros, presidentes de estatais e dirigentes petistas tenham sido presos e devolveram R$ 6 bilhões aos cofres públicos.
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A divisão que marcou o pleito se manteve e até se agravou. Eleito, Lula terá um desafio gigantesco diante das promessas que exigirão bilhões paras a concretização. Um congresso hostil exigirá, mais do que nunca, o emprego do “pediu, levou” para aprovar projetos.
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