A última terça-feira foi um dia histórico para Santa Cruz do Sul e região. Enfim, as primeiras doses da vacina contra a Covid19 chegaram. Acompanhei e contei ao vivo para a Rádio Gazeta e para o Portal Gaz o momento em que os imunizantes estavam aqui. Naquela hora, mantive a discrição e priorizei as informações. Depois que a transmissão encerrou, me permiti comemorar.
Não escondo minha felicidade com este início da campanha de vacinação. Não disfarço a alegria de ter visto as primeiras moradoras do município recebendo uma injeção de esperança. Fico pensando nos sacrifícios enfrentados pela enfermeira Jucelaine, a primeira vacinada. Desde que a UTI Covid foi instalada, no Hospital Santa Cruz, ela está lá. Um trabalho na linha de frente. Imagino que ela esteve nas batalhas em que o coronavírus foi vencido e também testemunhou algumas vidas perdidas para o inimigo. Em quase um ano, suponho que tenha reduzido o convívio com familiares e amigos, para protegê-los e a si mesma. Acredito que houve em que pensou que seria vencida pela exaustão do trabalho, pelo psicológico pedindo um descanso. Tantos outros profissionais de saúde devem ter experimentado essas sensações.
Também penso na dona Lourdes, segunda moradora que foi vacinada. De quantas experiências precisou abrir mão para se cuidar? As visitas de familiares só foram permitidas quando do outro lado do portão da Asan, impedidos de entrar no local para não aumentar o risco de contágio pelo coronavírus. Os passeios também foram suspensos. Integrante de grupo de risco pela idade, ela vive o isolamento social há 11 meses (e assim deve ser por mais algum tempo ainda). Assim como Lourdes, tantos outros residentes em instituições de longa permanência (agora já vacinados) devem estar sentindo falta de abraços.
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É inegável que nossas vidas mudaram com a pandemia. O sofrimento, infelizmente, tem marcado presença em muitos momentos. Está nas famílias que precisaram se despedir de entes queridos, pessoas amadas e que tiveram as vidas abreviadas pela Covid. Está nos empregos perdidos, na fome sentida e na incerteza do amanhã. Está no empresário(a) que precisou desligar trabalhadores, que precisou fechar as portas, que precisou desistir do próprio sonho. Está na vida de quem teve o psicológico fortemente agredido pela solidão, pela angústia e pelo que é mais singular ao ser humano: as trocas com os nossos afetos.
A vacina não acaba com tudo isso. Levará um tempo até a chamada imunização de rebanho. Os problemas do mundo também não estão concentrados somente na pandemia, não sejamos rasos. Porém, a vacina traz um sopro de esperança para algumas dessas situações. Faz parte do meu trabalho e de meus colegas noticiar os fatos. No ano passado e neste início de ano, não foi fácil lidar com tantas notícias ruins. Mas não podemos esconder ou maquiar os acontecimentos. Com méritos à ciência e às pessoas que trabalharam duro no desenvolvimento da vacina, vejo nela a chance de trazer mais boas notícias. Por isso, após longos meses tendo de contar, por força do ofício, inúmeros acontecimentos tristes, fiquei tão feliz nesta semana. Definitivamente, foi a melhor pauta dos últimos 11 meses.
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