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A noivinha e o violino

Muito cuidado ao comprar uma casa na praia. Não creio ser salutar adquirir no inverno, a não ser que saibas quem são os vizinhos. No inverno é uma coisa, no verão é que o bicho pode pegar.

Entre as quatro casas que já tive, numa fui muito infeliz. Apesar do alto padrão, na casa ao lado havia gritarias, consumo de drogas, som alto. Achei melhor vender a minha para ter paz e para evitar um surto psicótico.

Fiz bem, pois comprei uma joia a uma quadra do mar, com vizinhos civilizados.

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A primeira coisa que fiz foi me apresentar a eles, dar-lhes meu nome e número do telefone. Descobri pessoas muito finas e educadas.

Também formamos um grupo de Whats com a exigência rigorosa de não se falar em política, nem contar piadas. O propósito é para alertar sobre passantes suspeitos, urgências, assuntos de interesse local.

Deu muito certo porque temos uma área verde onde se pode jogar bola ou caminhar.

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Há duas semanas, um vizinho nos convidou para confraternizar na calçada lá pelas 17 da tarde. Estava um sol esplendoroso. Cada um traria seus quitutes e bebidas. Sugeri que fosse no meu jardim e na calçada. Conversa vai, conversa vem pediram para eu tocar violino.

Aconteceu um fenômeno: carros iam passando e alguns olhavam, paravam um pouco e seguiam. De repente veio um grupo de jovens a pé e pararam onde estávamos. Uma menina de seus 20 anos, com seu namorado, esperou terminar o que eu estava tocando e disse: “O senhor sabe tocar o ‘Por una Cabeza’?”

Imediatamente retruquei: de onde conheces essa música?

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Ela respondeu que iam casar no fim do ano e queria que a música no altar fosse essa, porque seu avô gostava demais e agora ela também.

Essa música é muito complicada para quem já está na terceira taça de champs. Sugeri que eu tocaria “Love me Tender”. Se atravessou minha mulher e sugeriu que fizéssemos na rua mesmo um ensaio, ela entrando na igreja. O altar seria a rua. Os padrinhos éramos todos nós.

Patético! Cheio de gente olhando, a guria de shortinho com uma vela acesa na mão, caminhando em direção ao seu namorado, ajoelhado no calçamento, com o calção molhado e as mãos postas.

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Protocolos cumpridos. Tenho o vídeo.

Sem dúvida, a pandemia trouxe à tona coisas esquecidas.

Câmeras na free way.

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Na altura do estádio do Grêmio, as motos vêm quais marimbondos tentando estraçalhar meus retrovisores. Na nova ponte, tudo parado. Ideal para um assalto.

Faço o que tenho que fazer e volto no mesmo dia para a mansidão da praia.

(Em tempo: a menina me intimou para tocar na igreja. Falei que só sei tocar na rua.

Vou pensar…)

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