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A namorada do Bigode

Bigode deve beirar os 60 anos. Hoje suas filhas são casadas e a paixão do avô é o netinho. Quando fala do neto Julinho, os seus olhos brilham. Guarda as moedas que ganha de troco para dar à sua paixão. Vive sozinho há muitos anos, sua mulher o abandonou com duas filhas para criar. Criou as gurias com carinho e não lhes deixou faltar nada.

Sua profissão de pedreiro tem-lhe dado um bom rendimento. O apelido que carrega até hoje vem do cultivo de um estreito bigode, que lhe acompanha desde jovem. Hoje já está branquinho. As namoradas se apaixonam pelo seu bigodinho, declarando que lhe dá um ar de conquistador.

Quando se encontra com os amigos de boteco pelas bandas do Arroio Grande, gosta de demonstrar sua paixão pelo Grêmio e de falar com orgulho de sua profissão. Recorda que aprendeu esse ofício com seu tio Biteco, que construiu por muitos anos os túmulos do cemitério, e sua função era ser servente de pedreiro. Além disso, nas horas de folga, mantinha  a limpeza do local. 

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Recebia um salário mínimo no fim de cada mês. Ajudava no sustento da família numerosa. Não tinha nem luz elétrica na casa; as velas eram a única iluminação. Levava para casa algumas velas que queimavam em plena luz do dia lá no cemitério. Tratava de apagá-las quando chegavam na metade. Achava um absurdo essas promessas aos santos. Essas velas seriam mais úteis em sua casa.

Nas folgas, gosta de se divertir. Assim como ele, existem muitas mulheres viúvas, separadas ou solteiras que não dispensam um bom divertimento. E o Bigode é uma companhia que elas disputam entre si. Gosta de dançar e beber cerveja, além de ser gentil e carinhoso com suas parceiras. Não dispensa a oportunidade de levar sua namorada para casa. Vai de táxi. Nunca teve um carro particular. E se caso ela lhe convidar para fazer companhia para dividir sua cama, não se faz de rogado. Fica até o sol raiar.

Outro dia, levou outra namorada para uma excursão a Torres. Ficaria um fim de semana em uma pousada. Já estava tudo incluído no preço da passagem.

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A Ritinha, sua paixão do momento, era graciosa e seu corpo cheio de curvas lhe enchia de prazer. Apreciava seus banhos de sol. Usava óleo no seu corpo, o que dava um brilho suave a sua pele. Alegava que bronzeava melhor. Passou o dia admirando as idas e vindas da Ritinha ao mar. Tinha um gingado tão gostoso e sensual! Só pensava na chegada da noite, quando seus corpos se uniriam por baixo dos edredons.

Lembrou que deveria lhe comprar um presente. Foi à loja e pediu um vestido bem bonito para a atendente. Essa lhe perguntou qual o número que sua namorada usava. Respondeu que poderia ser para uma baixinha e socadinha.

Chegando à pousada com o presente, a Ritinha ficou admirada de como havia acertado perfeitamente o número.

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O Bigode respondeu: – Pedi vestido para uma mulher baixinha e socadinha.

A Ritinha ficou uma arara de braba. Que falta de educação! Que desalmado! Gorda? Só se forem as outras namoradas! Eu, não. Fora daqui! Bigode saiu do apartamento desolado. O sonho acabara. 

– Garçom, trás uma cerveja bem gelada! Hoje vou tomar um porre!

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