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A morte vai sobre duas rodas

O trânsito promove a cada semana uma chacina. Acostumamo-nos de tal forma a essa rotina que ela já é aceita como natural. Os que perdem a vida no caminho, por imprudência própria ou alheia, ou ainda por conta do péssimo estado das vias, simplesmente são lixados da existência, do convívio familiar. Aos milhares, caem pelas estradas como mariposas, por insensatez e inconsequência. Como admitimos tal aberração? Como justificamos tamanha indústria da morte sem sentido? Como chegamos a esse descaso com a própria vida?

Nos últimos dias, notícias deram novos contornos a essa loucura. Por mais leis e alardes que façamos, na prática nada muda para melhor. O que as estatísticas revelam na verdade é apenas o óbvio: como seria de prever, são os jovens os que mais se acidentam. Ainda que tenham a vida pela frente, guiados sabe-se lá por qual impulso, correm, correm (em uma idade na qual nem sabem para que ou para onde). O saldo são pais, irmãos, avós, amigos chorando perdas inadmissíveis, porque nada têm a ver com doenças ou causas naturais. Um jovem sai de casa e é certo que pais começam a rezar. Não sabem se volta, quando volta, como volta.

Pessoas do sexo masculino configuram 75% das vítimas do trânsito, e a metade situa-se na faixa entre 18 e 34 anos, revelam dados relativos a Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Dpvat). E como alguém iria se surpreender com a categoria que mais se acidenta? Motoqueiros, óbvio! A moto tornou-se uma máquina assassina. Como aventou alguém, basta colocar um “R” entre as duas sílabas da palavra moto e já se tem uma premonição. 

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Em ruas e rodovias, é impossível que não se fique estarrecido e indignado com a inconsequência dos motoqueiros. Se fosse apenas o condutor que se colocasse em risco, vá lá, cada um que se ocupe da própria imaturidade. Pais e familiares, por sua vez, que tratem de dar os puxões de orelha. O problema é que muitas vezes sofrem terceiros, incluindo crianças e idosos, que nada têm a ver com o desvario dos motoqueiros.

Aliás, onde fica a fiscalização do trânsito na hora em que uma moto passa em alta velocidade por rua central? Para onde olha ou que tipo de fone usa o fiscal para não ouvir o ronco que todos ouvem? Numa sinaleira, quando o semáforo fica verde, motoqueiros arrancam em alta velocidade muito antes que o primeiro carro consiga sair. Nem uma única multa. 

Aquilo que se chama de corrupção também pode ser visto no trânsito. Ou não seriam corrupção os tais “privilégios” de motoqueiros que não respeitam regras do trânsito? Avançam entre os carros à força para chegar à frente em semáforos. Na autoescola não se aprende que a moto é um veículo como todos os demais? Deve se posicionar em fila, atrás do veículo à sua frente, como qualquer carro. É assim que são deseducados? 

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Na lista das maluquices, há motos com escapamento aberto (mais um crime) e há motoqueiro que ultrapassa até pela direita, ou em ziguezague. Realmente, não há nada que deva nos surpreender no fato de motoqueiros caírem mortos como moscas pelas ruas e pelas estradas. E como bem se sabe, sobre duas rodas, a testa é sempre o parachoque. Diante disso, como acreditar que estamos evoluindo, enquanto seres humanos?

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