Eu fico um pouco incomodada com o fato de que há pessoas que vão a uma loja, experimentam uma peça de roupa e depois voltam pra casa e fazem a compra pela internet. Parece que isso faz as pessoas que vivem daquele trabalho (o vendedor e o empresário, por exemplo) – e que por vezes se dedicam e se qualificam para atender bem o cliente – perder seu tempo. Por que “enrolar” o coitado do vendedor, usar a estrutura da loja se a intenção já era comprar pela internet? O vendedor trabalhou, se dedicou, mostrou as roupas, e não ganhou nada. Penso que todas as pessoas têm o direito de receber pelo trabalho realizado.
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É claro que algumas atividades são uma aposta: pode ser que a pessoa não goste do produto, que o resultado não dê certo (no caso de advogados, por exemplo, quando fazem contrato para receber somente no êxito). Na minha concepção (e sei que isso é muito particular de qualquer pessoa), essa atitude não é moral.
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Aprendi muitas lições com as obras do Clóvis de Barros Filho (não deixem de adquirir os livros dele e assistir aos vídeos). Diz ele que a moral não é aquilo que estão te obrigando a fazer ou não fazer, e sim aquilo que você acha certo fazer mesmo que saiba que não vai ser penalizado. Clóvis de Barros diz que a moral é um conjunto de princípios que você decidiu respeitar (livremente): “É aquilo que você não faz, mesmo se ninguém estiver olhando”. É a consciência que você tem do que é certo, é buscar não se envergonhar consigo mesmo.
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No mundo atual, muitas vezes vale a chamada “Lei de Gerson” – pessoa que quer levar vantagem em tudo. Na seara jurídica, isso acontece com frequência. Não falo aqui da lealdade processual – de não deturpar o processo –, mas de respeito com os colegas de ofício. Infelizmente, há profissionais que vão pelo caminho mais fácil, de assumir processos já construídos e “roubar” o cliente, sem cerimônia, sem respeitar a ética (a OAB possui um Código de Ética), sem pedir ao cidadão que pelo menos avise o outro advogado, que revogue a procuração e pague pelo trabalho feito até ali. Nisso se assemelha à pessoa que vai à loja e prova uma roupa para depois comprar da internet. Desvaloriza o investimento do estabelecimento comercial, o trabalho e o empenho de todos os envolvidos. No meio judicial, há até quem entra no processo do colega só na hora de o cliente receber, enganando o cliente com os mais diversos discursos, até o ponto de mentir e dizer que o advogado anterior errou no processo. Quem é advogado com certeza deve saber exatamente do que estou falando – embora a moral deva ser uma preocupação de todas as pessoas, de todos os profissionais e uma autofiscalização constante.
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Sou de um tempo ou de um pensamento que “o combinado não é caro”. Isso não abarca, claro, questões ilegais. Mas aquilo que está dentro da legalidade e foi contratado deve ser respeitado até o fim. Uma das formas mais simples de ver como isso funciona é um ensinamento muito antigo – que remete a um importante filósofo da ética, Immanuel Kant: não faça aos outros aquilo que não gostaria que lhe fizessem. Nesse sentido, é só aplicar a simples pergunta: se fosse você do outro lado, gostaria que fizessem isso?
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