Categories: Pedro Garcia

A mensageira

Existe um dito segundo o qual não se pode culpar o mensageiro pela má notícia. Ainda que o conteúdo seja incômodo, é preciso lembrar que ao mensageiro cabe tão somente transmiti-lo. Seria como receber uma cobrança indevida de um banco pelo Correio e ir tirar satisfação com o carteiro.

Com a ascensão das redes sociais e o estado de instabilidade em que o País mergulhou, a imprensa – que é, podemos dizer, a mensageira das sociedades democráticas – passou a ser vigiada como nunca. Diferente de quando o senso comum exigia dos veículos de comunicação uma objetividade impossível de praticar – já que jornalistas são seres humanos e não robôs –, hoje existe uma consciência de que o jornalismo que consumimos diariamente é produto de uma série de decisões.

Assim, se um assunto e não outro virou manchete e se uma reportagem ocupou uma página inteira ou uma nota de rodapé, é porque escolhas foram feitas, e todos entendem isso. Não são escolhas aleatórias, e sim baseadas em princípios e critérios. Mas o reconhecimento dessa subjetividade abre caminho para a crítica – já que, se são escolhas, elas podem (e devem) ser contestadas quando necessário. Não se pode culpar o mensageiro pela notícia, mas criticar a forma como ela foi entregue, sim.

Publicidade

O problema é quando a crítica vira paranoia. Trabalho em redação há quase nove anos e já ouvi de tudo. Na era petista, éramos acusados de servilismo à direita e perseguição contra a esquerda. Com Bolsonaro no poder, passamos a ser tachados de esquerdistas e de má vontade com o novo governo.

Para quem acredita em alguma dessas teses, aqui vai uma informação. Existem, nas redações, pessoas de esquerda e pessoas de direita. Pessoas que simpatizam com Bolsonaro e pessoas que o desprezam. Pessoas que veem em Lula um corrupto e pessoas que consideram ele um preso político. Nada diferente, portanto, de qualquer outro ambiente do Brasil de hoje. Afinal, como dito, jornalistas são pessoas de carne e osso.

Isso significa que todo conteúdo é enviesado, para um lado ou outro? Não. Porque acima de opiniões e preferências, está o nosso profissionalismo. Assim como o bom professor não dá notas mais altas para um aluno porque simpatiza com ele, ou o bom médico não deixa de prestar socorro a um paciente de quem não gosta, o bom jornalista não se deixa orientar pelas suas convicções ideológicas.

Publicidade

É óbvio que existem falhas – como em qualquer outro setor – mas, na condição de quem tem entre as suas pessoas mais próximas muitos jornalistas, digo com segurança: bons profissionais não faltam. E a maioria dos veículos que conheço – os sérios, com endereço e tradição – fazem o melhor que podem.

Mais do que isso, é preciso separar a crítica legítima da crítica que apenas atende aos interesses de certos grupos. Afinal, quem tem interesse em uma imprensa sem credibilidade?

Publicidade

TI

Share
Published by
TI

This website uses cookies.