Escritores que integram agremiações das mais diversas regiões do Rio Grande do Sul encontram-se desde essa sexta-feira em Santa Cruz do Sul para o quarto Congresso Estadual das Academias de Letras. A promoção é conjunta da Academia Rio-Grandense de Letras (ARL) e da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul.

O evento, no auditório do Sindibancários, na Rua 7 de Setembro, 489, no Centro, propõe em especial o congraçamento e o debate envolvendo temas e prioridades comuns. Mas sinaliza também para uma reflexão em torno do papel e da missão da leitura e da literatura em qualquer tempo: a preservação da memória e o compartilhamento do saber e do conhecimento.

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Nesse sentido, assuntos colocados em debate nos dois dias ganham concretude a partir de um elemento que contribui para perenizar essa iniciativa: o lançamento de um volume com artigos previamente elaborados e enviados à organização do Congresso por escritores vinculados às mais diversas entidades congêneres.

A obra possui 206 páginas e está sendo lançada sob o selo da Editora Gazeta, tanto no formato físico quanto em e-book. O impresso estará à venda por R$ 50,00, podendo ser adquirido durante a realização do evento (aberto ao público em geral) ou, posteriormente, com integrantes da Academia de Santa Cruz. Já a versão digital será amplamente compartilhada, a partir do lançamento, com todas as academias e igualmente com os demais interessados.

O livro com os Anais permanece, assim, como um repositário de contribuições desses autores, mas também de pautas que, naturalmente, se salientam na ordem do dia no espaço público. A organização e a estruturação desse conjunto de textos ficaram a cargo dos professores e escritores Marli Silveira e Ruben Daniel Méndez Castiglioni, ambos integrantes da Academia Rio-Grandense de Letras (Marli também é membro da Academia de Santa Cruz do Sul).

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Em texto de apresentação, os organizadores referem que a iniciativa se inspira justamente no slogan do 4o Congresso, “Construindo Memória e Aproximando Distâncias”. No conjunto, os artigos buscam salientar a importância e as contribuições das academias para o registro, pelos mais diversos gêneros de texto, dos aspectos relevantes de cada sociedade e em cada época.

O livro se estrutura em duas partes. Na primeira constam artigos elaborados por autores vinculados a diversas entidades, além dos originais que constituem as exposições a serem realizadas em palestras ou painéis durante o Congresso. Na segunda seção, algumas academias apresentam seu histórico e compartilham atividades. No conjunto, é uma celebração da convicção quanto à importância de preservar a memória (individual ou coletiva).

Serviço

  • O quê: lançamento do livro dos Anais do 4o Congresso Estadual das Academias de Letras, sob o lema “Construindo Memória e Aproximando Distâncias”, com artigos de escritores de diferentes regiões do Estado; a obra sai sob o selo da Editora Gazeta.
  • Quando: durante a programação
  • do evento, que se iniciou nessa sexta-feira e segue até o meio-dia deste sábado.
  • Onde: no auditório da sede do Sindibancários, na Rua 7 de Setembro, 489, no Centro de Santa Cruz do Sul.
  • Para adquirir: a obra, de 206 páginas, estará à venda ao preço de R$ 50,00.

“Se de um lado tem-se o reconhecimento das implicações pedagógicas das histórias contadas e relativamente salvas pela repetição e pela repercussão desdobrada pelos seus experimentados narradores, de outro, a crescente necessidade de se assegurar a impressão dos acontecimentos no tempo garantiu uma permanência situada pelas platitudes gráficas alcançadas na memória. É a luta contra o esquecimento, nos dirá Gagnebin, que fundamenta as artimanhas de Odisseu, pactuando com o tempo estendido pela impressão qualificada o desejo de driblar a finitude e impingir à vulnerabilidade um resto
de permanência.”

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Com todas as letras

O gaúcho Airton Ortiz é um dos mais importantes escritores do gênero de narrativas de viagens (e também do jornalismo de aventura) da atualidade. E isso não apenas em âmbito de Brasil; sua obra se projeta amplamente para o exterior. Com uma infinidade de títulos na bibliografia, e com tiragens que os qualificam como best-sellers, é, igualmente, uma liderança artística e cultural. Que se concretiza, por exemplo, em suas funções como presidente da Academia Rio-grandense de Letras (ARL).

Na culminância de sua primeira gestão à frente da entidade, neste sábado será empossado para um segundo mandado. E esse ato ocorrerá durante o 4 Congresso Estadual das Academias de Letras do Rio Grande do Sul, que ocorre no auditório do Sindibancários, em Santa Cruz do Sul. O evento é uma promoção conjunta da ARL e da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, como uma oportunidade de integração entre escritores das mais diversas regiões gaúchas.

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Formado em jornalismo, Ortiz também já atuou como editor e presidiu o Conselho Estadual de Cultura. Toda essa caminhada iniciou-se na localidade de Bexiga, no interior de Rio Pardo, onde nasceu. Seus estudos iniciais foram realizados em Cachoeira do Sul, e depois fixou-se em Porto Alegre para dar sequência à formação em nível superior, em Jornalismo.

Como escritor, desenvolveu projetos que o levaram para todos os quadrantes do planeta, em viagens e aventuras que compartilha com os leitores em seus livros. Na próxima semana, no dia 27, ele completará 70 anos. O Congresso motivou uma entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, na qual reflete sobre a importância do trabalho das academias.

Airton Ortiz Escritor, presidente da Academia Rio-Grandense de Letras

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O escritor e jornalista Airton Ortiz, presidente da Academia Rio-Grandense de Letras

Como o senhor avalia o movimento e o esforço de aproximação entre as academias de Letras no Estado?

O Rio Grande do Sul tem forte tradição associativa, e um exemplo disso são as nossas cooperativas, que vão do agronegócio ao sistema financeiro, caso único no País. A aproximação entre as academias de letras é um passo natural. Há um bom tempo a ARL vinha coordenando essa aproximação no que chamávamos de Colegiado dos Presidentes, um grupo no WhatsApp reunindo os presidentes das academias. O movimento evoluiu para os congressos, que já estão consolidados. E agora, em Santa Cruz, por ocasião do Congresso, avançaremos mais um capítulo nesse processo com a criação do Fórum Rio-Grandense das Academias de Letras, entidade que coordenará de fato as academias municipais e regionais. A criação dos fóruns estaduais foi decidida no Congresso Brasileiro das Academias Estaduais de Letras, em Belém (PA), quando da criação do Fórum Brasileiro das Academias Estaduais de Letras, para o qual fui eleito como um dos seus diretores.

Que papel cumpre uma Academia de Letras nos dias atuais? Esse papel foi mudando ao longo do tempo?

As academias surgiram na história, e no Brasil não foi diferente, como uma forma de homenagear os escritores que se destacavam na literatura, pessoas consagradas e já em fim de carreira. Acrescentou-se, ao longo do tempo, outras funções, tais como preservar a língua e promover a literatura. Na atualidade eu acrescentaria a divulgação da leitura, em especial junto ao público jovem. As academias, por reunirem pessoas letradas, deveriam também se integrar na comunidade onde atuam e promover o debate cultural, filosófico e político.

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O que motivou no passado e o que motiva nos dias de hoje escritores a se reunirem nesse tipo de agremiação?

As academias são instituições que reúnem escritores consagrados, enquanto outras formas associativas geralmente congregam autores que ainda estão construindo uma carreira literária. Por isso, as academias têm maior peso institucional. E maior responsabilidade, também.

A ARL foi uma das primeiras no País. O que contribuiu para colocar o Estado na linha de frente nessa iniciativa?

Costumo dizer que no Brasil temos apenas dois estados que produzem arte nacional fora do eixo Rio-São Paulo: Bahia, com a música, e Rio Grande do Sul, com a literatura. E isso vem de muito tempo. Temos escritores que antes de entrar na ARL já haviam entrado na ABL. Por isso, é natural que a ARL tenha sido fundada lá em 1901, apenas quatro anos após a fundação da ABL. Mas, se quisermos retroceder, temos o Parthenon Literário, fundado em Porto Alegre em 1868, e que deu origem à ARL. Creio que essa precocidade na literatura se deve, em parte, à imigração alemã, pois esses imigrantes já chegavam aqui sabendo ler e escrever, ao contrário dos outros estados formados a partir da mão de obra escrava.

O senhor está na presidência da ARL e será empossado, no Congresso em Santa Cruz do Sul, para mais um mandato. Quais os pilares que o senhor defende junto à ARL?

No meu primeiro mandado, tivemos como meta trazer para a Academia os grandes escritores do Estado e consolidá-la como importante instituição literária junto à comunidade cultural gaúcha. Entendemos que o desafio foi cumprido. Agora, queremos projetar a ARL para além da comunidade cultural, transformando-a numa instituição referência para os gaúchos na construção de uma sociedade mais justa, mais esclarecida e mais bem preparada para os desafios inerentes a um mundo em rápida transformação como este em que vivemos. Além disso, entendemos que também cabe à ARL a promoção dos nossos escritores no cenário nacional.

Como as academias se organizam a fim de assegurar uma maior inserção comunitária?

Saindo do seu casulo e promovendo atividades culturais que se projetem além da sua própria sede. A ARL tem um projeto de leitura que vai distribuir, ao longo de alguns anos, 100 mil livros para as bibliotecas das escolas publicas do Estado. Estamos também montando biblioteca que deverá reunir o acervo dos acadêmicos, mais de cem anos de literatura, tornando-a uma relevante fonte de informação para os estudiosos da cultura do Rio Grande do Sul.

O trabalho da ARL e a literatura do Estado têm proeminência nacional?

Outro dia, na posse da diretoria do Fórum Brasileiro das Academias Estaduais de Letras, realizada no Salão Nobre da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, diversos acadêmicos vieram me dizer que estavam impressionados com a grande quantidade de ótimos escritores gaúchos.

O Brasil reconhece o Rio Grande do Sul como um celeiro de ótimos autores. E isso se deve muito à Feira do Livro de Porto Alegre, que gerou inúmeras feiras no interior há 70 anos, trabalhando pela formação de leitores e, por extensão, de escritores. Ninguém se torna escritor sem antes ser um grande leitor.

A defesa da educação e o incentivo à leitura costumam estar na ordem do dia no ambiente das academias. A sociedade está ciente da importância desse esforço?

A sociedade vive numa encruzilhada: de um lado a informação, constante nos livros, onde se pode aprofundar nos assuntos e ter visão completa dos fatos; e de outro lado a desinformação, vinda em especial da internet, onde tudo é tratado de forma descontextualizada, passando falsa impressão sobre a realidade.

Cabe às academias promover a cultura com qualidade e responsabilidade; cabe a cada um escolher o que quer para si. De minha parte, não me preocupo com quem não lê, essas pessoas não terão a menor importância no futuro.

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Romar Behling

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