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À Maria Flor, todo o meu amor

Sempre pensei muito sobre o que realmente importa, sobre o que efetivamente dá sentido à existência. Sabe quando chegamos em casa, cansados ao final do dia, e bate aquela angústia de não saber se estamos no caminho certo? Tive muitos desses momentos, ao longo de pouco mais de três décadas de vida. Na real, sempre fui adepto das reflexões, cotidianamente tentando entender o meu papel nessa confusão toda.

Minha principal paranoia sempre esteve relacionada à passagem do tempo. Os dias parecem escorrer pelas mãos sem que a gente consiga cumprir tudo aquilo a que se propõe. É uma sensação agoniante. Claustrofobia e excesso de espaço ao mesmo tempo. A questão é que tudo passa tão rápido e estamos cada vez mais absortos em atividades, compromissos e redes sociais que parece não estarmos vivendo de verdade.

Exemplifico: certa vez, mais ou menos metade do mês, me dei conta de que estava projetando quando receberia o próximo salário. Para recebê-lo, faltavam cerca de três semanas. Quer dizer, já estava calculando o que e como faria quando recebesse aquele valor. Nenhum problema com planejamento, mas a impressão que tive naquele momento era de que só poderia ter paz quando resolvesse as pendências e eu só poderia fazer isso com o pagamento do mês seguinte. Você percebe o que quero dizer?

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Não gosto de textos motivacionais. Aliás, internamente, na Redação, sou conhecido pelas frases “desmotivacionais”. Me sugeriram até escrever um livro com essas tiradas. Tudo brincadeira, óbvio. Quem realmente me conhece, sabe que no fundo sou um otimista. Efetivamente acredito que as coisas podem dar certo, mesmo naqueles momentos em que tudo está dando errado.

Contudo, não acho que existam fórmulas prontas para que as pessoas deem certo ou encontrem seus caminhos. Fórmulas, aliás, que estão cada vez mais presentes nas redes sociais. Como se a solução para problemas financeiros, emocionais ou de saúde coubesse em um vídeo curto de 30 segundos ou pouco mais. Simplista demais, sem graça demais.

Compartilho outra impressão que é simples, mas a mim faz sentido. A vida real está muito longe daquilo que é compartilhado nas redes sociais. Isso significa que ninguém é tão feliz, tão lindo e muito menos vive somente fazendo coisas sensacionais. Você já percebeu que essa versão recortada para parecer apenas bela, ao invés de inspirar, acaba causando mais ansiedade e desesperança? Isso fica muito claro já que passamos a observar todos os momentos de glória do outro, ao passo que, quando paramos para pensar na nossa realidade, lembramos de todos os dilemas não resolvidos, de todos os momentos de aflição que enfrentamos. A vida é muito, mas muito mais do que as redes nos mostram. E apesar de dura, às vezes, pode ser também maravilhosa.

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Por esse gancho, quero frisar que com a tragédia da Covid-19 havia perdido a esperança. Estava descrente de que teríamos solução como humanidade. Entretanto, tenho reencontrado o meu caminho. Há sete meses e 19 dias, eu e minha esposa fomos abençoados com o maior motivo possível para voltar a acreditar. A forma mais palpável de amor incondicional. A maior demonstração de que uma força maior – que eu conheço por Deus – rege tudo o que nós podemos ver e além.

Quando olhei pela primeira vez para minha filha, em toda sua fragilidade e inocência de recém-nascida, resgatei uma força que há tempos havia perdido. E assim tem sido, dia a dia ressignificando a vida. Descobrindo que a beleza está no detalhe e não nos grandes acontecimentos. À Maria Flor, todo o meu amor.

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