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LUÍS FERNANDO FERREIRA

A mais desagradável constatação

“Nazismo” e “Holocausto” são palavras que volta e meia ressurgem, não necessariamente em seus contextos originais. Sob o risco evidente de banalização dos termos, hoje servem para qualificar agressões violentas e injustas ao extremo, de grandes proporções, que vitimam grupos específicos. Falamos em “nazismo” quando queremos nos referir a um grande mal, ou àqueles que por ora representam esse mal.

Mas existem massacres, perseguições e genocídios, e existe o Holocausto – solitário em sua terrível singularidade. Não há paralelo histórico para as fábricas de cadáveres do Terceiro Reich. Impossível de se repetir? Não.

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O tipo de pensamento e disposição que produziu o Holocausto não desapareceu. Isso é algo perceptível na leitura de obras a respeito, como A zona de interesse, romance do britânico Martin Amis (1949-2023) e base do filme que ganhou cinco indicações ao Oscar 2024.

Na história, oficiais nazistas vivem tranquilos em casas confortáveis, com suas famílias cheias de crianças, nas imediações da Zona de Interesse: o lugar onde judeus e outros recém-chegados ao campo passam por uma triagem, que decide se eles serão enviados para trabalhos forçados ou levados de imediato às câmaras de gás.

A filósofa Hannah Arendt cunhou a expressão “banalidade do mal” por ocasião do julgamento de um dos mentores do Holocausto, Adolf Eichmann. O acusado era um homem de aspecto inofensivo, um burocrata semelhante a muitos outros, “banal”. Podia ser um senhor qualquer que você vê na rua.

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Pois a pior notícia trazida pelo Holocausto foi esta: não a considerável probabilidade de nos tornarmos vítimas em algo parecido, mas de sermos os carrascos. Como diz Zygmunt Bauman em Medo líquido: “Não é que poderíamos ser postos atrás do arame farpado ou enviados ao gás, mas que (nas condições adequadas) poderíamos ficar de sentinela.”

“Eichmann apenas preferia, como todos nós, seu conforto ao dos outros”, observa Hannah. Em circunstâncias similares, quem se revelaria herói ou criminoso? Martin Amis prefere deixar no ar.

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“Quem é você? Você não sabe. Então você chega à Zona de Interesse e ela lhe diz quem você é.”

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