Para quem trabalha em rádio não é incomum se deparar com surpresas vindas dos ouvintes. Desde cartas a lembranças, todos os dias nós, locutores, jornalistas, radialistas, somos agraciados. Em outro momento, inclusive, a colega Maria Regina falou sobre as cartas nominais enviadas para muitos de nós. Observadora, crítica e carinhosa, a ouvinte sempre nos mostra o quanto fazemos parte da vida e do cotidiano dela.
Sou “nova” neste meio, já tive a honra de trabalhar com figurões que circulam por estas ondas há mais de 40 anos, também com quem começou comigo e outros que tiveram a paciência de me ensinar, auxiliar e me fazer entender o quão mágico pode ser estar por trás dos microfones. A magia do rádio é algo forte e que se mantém até hoje. Confesso que, ainda estudante de jornalismo, vislumbrava a TV. Me identificava com as imagens, cores e achava que o reconhecimento viria através das imagens reproduzidas nas telas.
Mas foi a voz que me projetou. Através dela é que as pessoas imaginam (olha a magia aí) quem eu sou, como meus colegas são. Não são raras as vezes em que um ouvinte, enfim, nos conhece, se admira e diz que pensava que éramos “bem diferentes”. Esse tipo de surpresa é também um convite à reflexão. Como nos dias atuais, com tanta tecnologia, as pessoas ainda se encantam e se admiram com o que apenas ouvem. O companheiro de décadas, o querido radinho, ainda transmite a mesma curiosidade de quando surgiu.
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Dos mais experientes aos mais jovens, é muito difícil alguém não ter alguma lembrança relacionada ao rádio. A adolescente Aline era viciada no Programa Contato 101, coincidentemente, veiculado na empresa onde trabalho hoje. O gosto era tanto, que ganhei um rádio portátil da minha mãe para ouvi-lo na tranquilidade do meu quarto. Foram inúmeras noites em que dormi com o rádio ligado ou, ainda, fitas e fitas gravadas com as canções que amava (mas chateada com o chamado “carimbo” no meio da música). Eu idealizava aquele locutor, que tinha a voz doce e firme. Anos mais tarde, nós nos tornamos colegas!
São esses detalhes e lembranças que colaboram para a tal magia do rádio de que muitos falam. O rádio é companheiro diário de muitas pessoas, é ele que é levado pelos cômodos de casa, é ele que está ali no serviço, na obra, à beira da piscina… E assim, magicamente, nós, locutores, entramos nos lares e vidas de muitas pessoas. Pouco a pouco nos tornamos íntimos de alguém que nunca vimos. Pode parecer loucura, mas não é. Essa troca de energia é tão forte e intensa que se materializa, seja em forma de recados, mensagens, bilhetes, cartas e lembranças.
Muitas vezes somos surpreendidos por um carinho tão genuíno, quando no máximo cumprimos nosso dever, de informar e entreter. Seria pouco agradecer, então prefiro me comprometer em manter viva essa magia que o rádio emana. Através das ondas transmitir e devolver tudo de bom que eu e meus colegas recebemos, quase que diariamente. Encerro com a promessa de devolver as fotos, sim, fotos, que recebi de uma ouvinte muito querida para que nós pudéssemos conhecê-la. Acreditem, fotos em papel, de diferentes períodos e momentos, em um lindo envelope cor-de-rosa.
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