Minha mãe, Elzira Winter Haeser, era natural de Candelária. Morava na mesma rua do meu pai, Edwino João Haeser. A convivência diária de vizinhos aproximou os dois jovens, que se enamoraram. Essa paixão levou-os ao casamento. O enlace se deu em Candelária. Em seguida, o jovem casal mudou-se para Trombudo. A casa foi construída com muito sacrifício. Ela resiste até hoje. Fica nas imediações da entrada para o distrito de Formosa.
Por muitos anos, seu Edwin, que assim era denominado pelos vizinhos alemães, foi o alfaiate da localidade. Não ganhava muito com a profissão, porém o serviço não parava. Sempre havia alguém que estava com o casamento marcado. O noivo usava um terno novo para sair bem nas fotos ao lado da noiva.
Meu pai era uma pessoa inteligente e séria. Lia jornal e escutava os noticiários das rádios, únicas fontes de informação, restritas a poucas pessoas. Os colonos, quando vinham para a vila, sempre davam uma parada na casa do Edwin, que lhes informava os últimos acontecimentos dos noticiários políticos e econômicos.
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Os colonos só se comunicavam pelo dialeto alemão. Falar português fluentemente era uma raridade. Nas escolas do interior, as aulas eram ministradas em alemão.
No governo de Getúlio Vargas houve a reforma, tornando obrigatório o ensino na língua portuguesa. Os filhos dos colonos tinham extrema dificuldade. Em casa só falavam o dialeto alemão. Essa mudança brusca fez com que muitos deixassem de estudar, preferindo ajudar os pais na roça.
A dona Cina, como era conhecida minha mãe, não era muito alta e sim um pouco fora do peso, mas não poderíamos chamá-la de obesa. Tinha uma vasta cabeleira levemente ondulada e os cabelos grisalhos. Era benquista na vizinhança e na vila, extremamente comunicativa, solidária com todos que dela precisassem. Suas risadas estridentes denunciavam sua presença em qualquer ambiente. Era sua marca registrada.
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Minha mãe fazia parte da Sociedade de Damas Sempre Unidas (nome fictício) de Trombudo. Era encarregada de fazer a chamada da sócia, anunciando sua vez de jogar. Microfones, naquele tempo, nem pensar.
As mulheres, nos domingos à tarde, se reuniam no Salão Machado, para jogar bolão de mesa. Quem conseguisse derrubar o maior número de pinos era a vencedora.
Acompanhava minha mãe nessas reuniões. Era o mais novo da casa. Enquanto ela estava envolvida nos seus afazeres, dava-me alguns trocados para comprar uma garrafinha de Pepsi. Levava uma tarde toda para tomá-la. O precioso líquido era degustado de gole em gole e dava umas dez voltas pela boca antes de ser engolido.
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O sobrinho do padre Backes era tetraplégico e não falava. A visita da Cina era ansiosamente esperada pelo cadeirante. Bastava escutar a voz e a risada dela se aproximando da casa que seu semblante se transformava numa esfuziante alegria. Adorava a voz e o sorriso carinhoso da Cina. Que mulher bondosa!
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